Roseana Murray escreveu miniaturas poéticas. Seus versos aqui passeiam no azul do dia, adiante quatro outros dão o timbre e ressoam delicados como os braços estendidos de louva-a-deus. Há momentos que se iluminam como haicais e há tercetos que espelham e pousam no tecido do jardim, da vida, da literatura, como aranhas de luz.
Roger Mello acolheu esses poemas tão variados como as flores, folhas e plantas que colecionamos num jardim, real ou imaginário, num livro com sobrecapa verde e um laço de fita vermelho, ao modo de um caderno de viajante. É um herbário. Um livro para a contemplação demorada do leitor.
Dos diálogos entre palavra e imagem, chega a ser quase impossível dizer onde começou a primeira fala ou o primeiro desenho. Ao abrir este livro, encontramos uma rã que talvez salte e tombe num tanque vermelho de paixões lembrando um velho poeta japonês. E há pedras, vasinhos organizados, um jogo que o olhar e a mente se lançam entre semelhanças, similitudes, ou então armadilhas para o canto de pássaros, uma homenagem à arte naïf. Entramos assim no jardim secreto de lua e luares, pois as flores à noite descansam suas cores numa cama de sombras. Até o amanhecer do outro dia, de outra e mais outra leitura.