De tão especiais, alguns livros são capazes de evocar lembranças há muito tempo esquecidas, como alguém que carinhosamente nos desperta do sono. Outras tantas vezes, essas lembranças sequer foram vividas por nós, mas a capacidade de um autor em descrevê-las nos enreda de uma maneira que isso faz pouca (ou nenhuma) diferença. A emoção é a mesma.
Assim acontece com esta narrativa mágica, atemporal, emocionante e extremamente sensível, contada por Bartolomeu Campos de Queirós. O escritor mineiro vem e nos pega pela mão. Para conhecer a história de Antônio, ele nos apresenta aos detalhes do cotidiano rural da família com tamanha poesia e maestria que se torna inevitável fechar os olhos para ouvir o canto das aves pela manhã, sentindo o cheiro do bolo pela casa e salivando pelo sabor do queijo derretido sobre a fatia quentinha da iguaria.
Antônio nasceu antes do tempo e quase morreu várias vezes. Ainda assim, é o personagem principal dessa história, precisando lidar com seus irmãos e irmãs, os trejeitos do pai, os cuidados da mãe e com seus próprios medos. Antônio é tanto a criança que carregamos em nós quanto aquela que temos ao nosso lado. Precisamos abraçá-la, forte, ainda que seja tola a tentativa de evitar a despedida que chega com o crescimento, a idade e o tempo.
Este é um livro que, de tão belo, chega a machucar. Uma história necessária para nos lembrar que a vida passa para todos nós, mas que as boas lembranças podem ficar. Talvez nos restará apenas o desejo de amar Antônio, amá-lo profundamente, com seus anseios e receios, as descobertas, a família, as aventuras, enfim, seu olhar atento para a vida!