Não é fácil, também não é tão difícil ver a proximidade de Itamar Assumpção com o universo infantil, quando se pensa em originalidade e uma dose de desobediência. Aos moldes, aos cânones, à forma dos formatos prontos. Os versos de suas canções, os versos de seus livros para crianças, precisam ser ouvidos e imaginados, caindo como chuva, navegando como arca pelas ruas de São Paulo, numa zona de artistas independentes que as casas mais tradicionais se recusam publicar. Itamar — e aqui me perdoem o trocadilho — tem um toque de pedra quando bate, ita, tem uma explosão de mar quando inunda, mar, detestando rótulos, um artista popular e homem de vanguarda, samba, reggae, jazz, funk, rock, uma dose de tropicalismo numa lira paulistana.
E aqui a poesia confronta homem-bicho e bicho-homem em versos que fazem a sobreposição de ideias, número, soma, mira, nomes: como um e um são dois... não terá chifre o peixe-boi? E depois dois e dois o que são, o que definem? Que o verdadeiro chupa-cabra é o carrapato. Três e três, as mangas ficam de vez... isto é, algo ainda verde, à espera, tão perto de amadurecer! Itamar desatarraxa a língua, entre as coisas e os significados, entre o óbvio e o inusitado, numa construção aparentemente sem regras.
Aos bons ouvintes e leitores, os biscoitos finos.
E encaixes. A natureza do homem é que é o bicho.
Elefante é grande, não carece andar de bonde.