Imagine um livro que você abre, abre, reabre, desdobra e vira uma cobra de papel – pois esta é a proposta de Fabio Maciel e Márcio Sno em um livro-brinquedo que se chama Haicobra, que nos faz lembrar não só os pequenos e velhos poemas japoneses numa espécie de trocadilho mas também a brincadeira de formar uma nova palavra com outras duas já existentes: haicai + cobra = haicobra, uma palavra-valise onde cabem duas ou mais coisas numa só!
É uma coleção de poemas ou um bicho que nos dá essa obra? Fabio Maciel escreveu os versos que falam do bicho real que se arrasta pelo chão, a cobra cheia de escamas, veneno e perigos, que vive no mato e não é muito frequente nas cidades; depois evoca duas personagens do folclore, a cobra de fogo ou Boitatá da região sul e a cobra grande Honorato das lendas amazônicas. Mas cobra também é uma palavra de muitos significados, é um pedaço de linguagem – e, por que não, um pedaço de papel colorido e imagem?
É assim que o livro Haicobra vai se distinguindo: vale lembrar que, na categoria dos livros que se desdobram, são quase sem fim as possibilidades de jogar com a forma e com o conteúdo. Para se transformar em algo mais interessante, uma simples folha de papel que parece ter apenas dois lados, frente e verso, vai sendo multiplicada em porções menores que denominamos páginas. Dobrar e abrir páginas é o que permite criar objetos de leitura para brincar também com as mãos.