Guayarê, o protagonista, relata em português e na língua de seu povo, aspectos físicos e subjetivos de onde vive. Sua aldeia é chamada de Yaguawajar e fica às margens de um rio, no qual vê os pescadores e suas canoas cheias de peixes no final do dia. E é onde também brinca com seus amigos de pega-pega dentro d’água e por vezes conseguem pegar peixes com as próprias mãos. Entre uma brincadeira e outra, as crianças ajudam os adultos com os afazeres diários, como, por exemplo, carregar água do rio para casa quando necessário. A propósito, brincar é algo que não se restringe às crianças e faz parte da vida adulta como algo natural que está relacionado à alegria.
Na cultura Maraguá, há um ritual que marca a passagem das crianças para a vida adulta. O protagonista revela que o Wakaripé se dá entre treze e quinze anos para os meninos. E ele está ansioso para quando chegar sua vez, pois será o tempo de poder finalmente conhecer uma cidade grande na companhia do seu tio que viaja para contar a outras comunidades como é ser um indígena Maraguá.
Considerando a extensão territorial do nosso país e a pluralidade da cultura indígena, uma leitura como essa nos permite refletir sobre as particularidades dos povoados, não existe uma única maneira de ser indígena brasileiro. No livro consta também um glossário de palavras da língua Maraguá e apontamentos explicativos sobre os povos indígenas que habitam o Brasil.
Trata-se, portanto, de um importante instrumento de intercâmbio entre culturas. Os povos originários lutam diariamente por reconhecimento e respeito, e nos aproximarmos dessa causa é enxergar com mais profundidade as reais mazelas de um país que ainda não sabe contar a sua História.