Muitos especialistas de literatura para crianças e também autores, sejam escritores, sejam ilustradores, costumam definir o livro ilustrado como uma pequena e breve galeria de arte portátil — e alguns poucos trabalhos materializam essa ideia, ao pé da letra e da imagem. Griso, o único, talvez seja o último unicórnio da face da Terra e da interface das narrativas mágicas. E aqui temos a sua aventura poética tirada em tintas, neblinas e distâncias.
O narrador logo conta que Griso galopava por toda uma planície procurando um ser semelhante a ele mesmo, mas nunca sem encontrar nada nem ninguém, partindo daqui até os confins do mundo... Pois bem: num nível de interações com a história da arte, essa planície se torna o próprio livro — e o unicórnio, atravessando os vales e os montes da virada das páginas, incursiona por diferentes formas de representação gráfica da arte ótica, gótica, rupestre, surrealista, medieval, egípcia, grega, africana, persa, indiana, chinesa, num cavalgar que é não linear, entremeando tempos e espaços do imaginário coletivo. Onde Griso encontrará outro unicórnio?
Uma das leituras possíveis é que apenas encontrará alguém igualmente único nas tenebrosas noites dos mitos das mais remotas culturas que nasceram dentro das cavernas. Com um texto fluido como um passeio, o conto ilustrado (publicado pela primeira vez em 1997) admite ao pensamento entregar-se a questões profundas que surgem às vezes dos sonhos, nas sombras ou nos devaneios existenciais. Afinal, quem sou eu? Onde encontrar a outra parte de mim, a companhia necessária para enfrentar mares e abismos, horas que se perdem sob o manto que envolve e conforta? Qual seria o cavalo semelhante-dessemelhante como Griso?