Certamente todos os leitores de histórias para crianças conhecem a cena do principezinho pedindo “por favor, desenha-me um carneiro” ao escritor-aviador no meio de um imenso deserto. A cena chega a compor, na literatura, uma espécie de arquétipo ou lugar comum, pondo-nos frente a frente aos desejos da criança e aos desafios do adulto a respeito dela.
E tanto será maior o desafio quanto maior o animal — como uma girafa! Ou várias, pois uma só não basta para provar que o papai é o melhor desenhista de girafas do mundo: logo são duas, três e basta pedir com jeito: quatro, cinco, seis, mas dá a maior confusão quando se tem sete girafas com chapéu e nariz de palhaço. O combinado era só girafas, oito, nove, por que não chega logo e faz dez?
Brincando com a interação entre um pai e a criança — será um menino, uma menina, quem possui mais artimanha para manipular um adulto? — Jean-Claude relembra sua própria relação com o pai francês, neste livro que é um numerário ou livro de contar com a função de fixar a aprendizagem dos algarismos que representam unidades e quantidades. De um a dez, em meio às imagens, uma girafa ou outra tem torcicolo de pescoço ou fica sem cabeça no desenho, ao mesmo tempo que as páginas exibem primeiro as cores primárias (amarelo, vermelho, azul) e secundárias (verde, roxo, laranja), vindo depois pintar o sete e toda a confusão!