Este livro de imagem oferece o silêncio necessário para a leitura de uma das nuances da sociedade brasileira. Construída predominantemente sobre os preceitos europeus e o regime escravocrata, ainda hoje, ela se encontra às voltas para desconstruir um padrão de cor de gente. Por séculos, a cultura foi injetada de que haveria um lugar destinado aos privilegiados brancos e outro, dos subordinados pretos.
Maurício Negro entra no debate e equivale personagens de cores diversas para nos dizer, entre outras coisas, que as pessoas possuem várias cores e que diante da diversidade de emoções que a vida nos oferece, somos todos iguais. Parece óbvio, mas num país em que ainda há quem acredite que “lápis cor de pele” é aquele de tom roseado, e que ainda reproduz pequenas violências como esta às crianças e jovens, necessita, de verdade, de ferramentas como este livro para auxiliar nas discussões sobre raça e etnia.
Ao longo das páginas, uma mesma situação corriqueira ou emoção é partilhada por duas personagens em páginas duplas. Ambas, de cores diferentes, vivenciam a mesma situação, cada uma, do seu jeito, com traços que as aproxima. O artista explora as várias cores possíveis aos tons de pele. Um chamado à leitura compartilhada em família ou na escola. Os ruídos que a experiência de ler junto provoca, podem sinalizar um importante disparador de transformações sociais, tão urgentes no país.
A humanidade colocada à prova das emoções num recorte étnico e racial importantíssimo ao Brasil, e que em passos lentos tenta aprender sobre a sua própria origem e sobre a relevância do respeito à diversidade para o seu firmamento enquanto um país democraticamente mais viável.