Mulheres são historicamente definidas em relação a outras pessoas, especialmente homens: primeiro, somos as filhas, as irmãs, as netas de alguém. Depois, as esposas de alguém. Por fim, mães e avós. Mas quem somos nós, por nós mesmas?
A novela gráfica autobiográfica de Ana Penyas fala de suas avós, durante o período da ditadura franquista, entre 1936 e 1975. Mas o que parece ser um relato muito específico, com cenários e personagens bem definidos, ganha traços universais quando pensamos em todas as mulheres que dedicam suas vidas ao cuidado de outras pessoas, adiando ou negligenciando seus próprios sonhos, desejos e necessidades.
Quando chegamos à velhice e não podemos mais exercer a função de cuidadoras, rapidamente nos tornamos um estorvo, um problema a ser resolvido, empurrado de irmão em irmão. Nossas opiniões e vontades reduzidas à nada, como se não soubéssemos mais, sequer, conversar. A solidão e o silêncio se tornam as companhias diárias.
Este é um livro lindíssimo, que toca em uma ferida e nos força a refletir sobre as mulheres que nos ajudaram a chegar onde estamos sem pedir nada em troca. É um espelho doído que mostra o quão pouco lhes dedicamos, quando se tornam idosas e passam a precisar de nós.