Donana e Titonho já foram jovens. Ela, uma moça magrela, chamada Nana. Ele, um rapaz esquisito, Tonho. Viviam de catar latas, sucatas e outras coisas velhas que não tinham serventia para mais ninguém. Um dia se encontraram entre escombros duma casa, logo se entenderam e se gostaram. Juntos montaram um barraco, um canto feito de afetos e peças que descobriam ter ainda algum uso para eles. E tiveram filhos, tiveram netos que também descobriam, no monte de quinquilharias, brinquedos e objetos para brincar.
Neste conto, as palavras são igualmente empilhadas como se fossem versos, acumulando substantivos e adjetivos, e poucos verbos de ação, como as vidas de Donana e Titonho: um amontoado de coisas simples, paciência no dia-a-dia, expectativas, uma alegria miúda que ninguém desconfia existir debaixo da poeira da existência. É deste modo que Ninfa Parreiras intenta dar visibilidade a pessoas que vivem, não à margem da sociedade, mas constituindo a grande massa da ecologia humana. A cidade é uma circunstância ou bioma urbano onde todos resultam ser interdependentes um dos outros.
Ao mesmo tempo, aos desenhos de André Neves, mesclam-se a colagem de objetos reais, um acúmulo de cor e cinza, antenas, canos, eletrodomésticos, portas e janelas, numa ambientação poética.