Brincando com um velho expediente literário — a intrusão do narrador, Manuel Filho aqui conduz o leitor, através da fala e das páginas ilustradas por Ana Matsusaki, na busca de um personagem que adora fazer amigos, porém anda ligeiro por aí afora... Ele podia estar em casa, mas o leitor não o vê. Podia também estar nadando na piscina, mas se vê apenas um certo movimento na água e nem sombra dele nos ladrilhos do fundo. Ou ele foi ao médico, ou levou o cachorro para passear, ou zarpou no ônibus... e, em nenhum canto da cidade, foi possível flagrar esse homem que é invisível a todos os meros mortais!
Conversando (e bulindo) com o leitor, o narrador não se cansa de mostrar que é quem comanda a cena comunicativa, comentando o que o personagem faz ou induzindo o leitor a tomar parte da ação, como neste trecho: “Coitadinho... queimou a língua! O chá estava muito quente e ele está se abanando para se aliviar. Que tal assoprar para ajudar?”
Enquanto isso as ilustrações revelam o movimento, através de constantes linhas inclinadas: ora é o rodapé rumo à porta, a guia presa ao pescoço do cão, a fumaça que saí fumegante da chávena, os olhos enviesados do médico ou das pessoas na sala de cinema etc. Ou nosso homem invisível está na cena ou ele acabou de escapulir.