Já podemos demorar a leitura pela capa do livro. Como é possível um homem dormir em fio estreito sob as estrelas? Estaria ele sonhando? Cansado? Vivo? Morto? Pronto, instalados vários pontos de interrogação, estamos diante de Troche, artista uruguaio que provoca nossas certezas.
E como seria enxergar o invisível? Provavelmente, de olhos bem fechados. Com banho de silêncio. É que só é possível ver as coisas outras, suspendendo os saberes, abrindo mão do pragmatismo. De outro modo, como se deixar tocar por uma nota musical que substitui fones de ouvido? Ou visualizar muitos anos através da sombra de pai e filha? Ler imagens pode ser muito prazeroso, desde que não se limite tempo e espaço para isso. Percorrer poucas páginas por vez, como quem visita um museu.
A proposta do livro é tão livre que não há numeração de página. Logo, não há uma única forma de lê-lo. Pode ser um desenho seguido do outro ou abrir o livro de forma aleatória ao longo de vários dias. Uma edição como essa nos remete ao descompromisso didático que a Literatura propõe. Aqui, não há intenção outra a não ser tocar pessoas.
Os desenhos de Troche apontam que: nesse exato momento há um homem escorregando pelo planeta, perigando vagar solto no universo. Vizinhos se encontram. O sol é o varal particular da moça. Folhas de papel e de árvores voam simultaneamente. Janelas secretas se revelam. Uma cortina de chuva se faz...
Um exercício interessante é escrever sobre as sensações provocadas pelos desenhos. Propor textos curtos ou curtíssimos, sem compromisso, na caderneta ou no bloco de notas do tablet. Pode ser um texto-carta, destinado a si mesmo ou a alguém especial. Ou ainda, propor outros desenhos. Bonito mesmo são os desdobramentos – inesperados – da leitura.