De uns tempos para cá, a casa do menino começou a crescer, crescer e algumas coisas estranhas aconteceram: no banheiro surgiu uma lagoa com patos e sapos; na cozinha, uma verdadeira plantação de onde saem todas as comidas possíveis e no quarto dá até para acampar. Os cômodos podem ter se transformado, mas há sempre uma janela por onde o sol nasce todos os dias.
Bruna Lubambo reconstruiu as quatro paredes de seu apartamento, ampliando-as de tal forma, que lá passou a caber tudo o que se possa imaginar. Isolada com seu filho durante a pandemia do coronavírus, a autora nos convida a fazer um passeio diferente pelas nossas casas, explorando cada canto, mudando as perspectivas, descobrindo e redescobrindo objetos, ressignificando espaços, desnaturalizando o nosso olhar para aquilo que temos de mais cotidiano.
As ilustrações simulam desenhos infantis em tons de vermelho e verde, como se a própria criança tivesse recriado os cômodos da casa. A cada página dupla vemos o cômodo de uma perspectiva diferente, reforçando o convite à transformação do olhar e unindo fantasia e realidade que, no momento de isolamento, precisaram estreitar ainda mais seus laços. Os desenhos extrapolam as páginas porque a imaginação não tem fim, tudo cabe dentro dessa casa, a cama, coqueiros, o tapete, os cavaleiros, a lagoa e o sofá.
A viagem retratada no livro pode ser também para dentro da gente, onde tudo é possível. As redescobertas, a resiliência e a capacidade de se recriar em meio às dificuldades são uma forma de abrir janelas para o pássaro da esperança que habita dentro de cada um de nós.