Em meio à correria do dia a dia, uma menina de capuz vermelho caminha pela rua com um homem. Enquanto ele parece ocupado no telefone, ela observa a rua com outros olhos, recolhendo flores que colorem a paisagem. Ao longo desta narrativa, a menina vai distribuindo a poesia em forma de flores pelo caminho.
O livro ilustrado faz uma referência ao clássico Chapeuzinho Vermelho, trazendo uma personagem que também veste um capuz. Mas nessa obra contemporânea, o atalho é um desvio da vida comum, aqui o lobo mau é a rotina, essa cegueira cotidiana que nos engole e impede de enxergar as pequenas delicadezas. Enquanto a figura paterna olha para frente, a menina repara no chão, no que nasce, cresce e morre, se debruçando sobre os seres que precisam de cuidado e atenção.
A narrativa se inicia em preto e branco, sendo a única cor a do casaco da menina. Conforme ela vai depositando as flores, as cenas vão se colorindo, como se ganhassem a vida que ela as ofereceu. Em formato de história em quadrinhos, o livro narra algumas horas da vida da criança em diferentes perspectivas; em alguns momentos vemos a cena de cima, em outros o plano aberto e em outros em close, como quando a personagem deixa flores para um pássaro que jaz no chão. É como se os autores quisessem que o leitor fizesse o mesmo movimento da personagem, saíssem de seus eixos rotineiros e mudassem o foco.