Os versos começam evocando a origem da vida: “o girino é o peixinho do sapo”. E, entrelaçando duas espécies de animais diferentes, o improvável é impresso por um dos maiores representantes da poesia concreta no Brasil, o também músico Arnaldo Antunes.
Na sequência, o poeta brinca com as características dos animais, com o que se espera deles e também com o que perpassa pelo comportamento humano, ou até com o que antecede a palavra: “o silêncio é o começo do papo”.
As ilustrações que acompanham os versos são de Thiago Lopes que possui um traço próximo da linguagem do cartum e das charges, acrescentando uma camada de leitura a alguns dos versos do poeta, ora trazendo o humor do inusitado, da sátira, ora fazendo um gracejo gratuito. Divertidas, as ilustrações colaboram para aguçar a imaginação do leitor. Já pensou um bando de porcos uniformizados, alguns utilizando óculos, saindo da escola, portando mochilas e livros? Ou uma tartaruga bem acomodada em sua poltrona da sala/casa/casco? São desenhos curiosos que possivelmente receberão olhares inquietos. Os animais são apresentados em situações hilárias e inesperadas, ao mesmo instante em que estamos diante de informações sobre as espécies e de como se relacionam: “o cavalo é o pasto do carrapato”.
E então, a palavra “cultura” pode ser interpretada de diferentes maneiras até chegar no final, quando estamos diante de uma orquestra de bactérias. O que caracteriza uma determinada cultura? O que se espera de uma cultura? Pode-se questioná-la? Estas interrogações são possíveis ao longo da leitura, seja pelo pequeno leitor, seja pelo mediador.
Ler poesia para crianças é sempre uma tentativa de aproximá-las do senso de liberdade, da multiplicidade de interpretações e principalmente do livre sentir. E por que isso se faz importante? Bem, caminhar por um terreno seguro para ser o que realmente somos, onde podemos sentir e também verbalizar as emoções é uma boa premissa de saúde mental. E isso vale muito.