Ainda é noite, quando o pai desperta Julim. Os irmãos mais velhos já estão prontos para ir aos campos de arroz. Enquanto os adultos labutam, as crianças fazem algazarra e espantam os chupins. Aos olhos dos homens, os pássaros são tidos como preguiçosos e aproveitadores, uma praga que rouba o fruto do esforço alheio. Aos olhos dos donos da terra, esses trabalhadores rurais, sem campo fixo, é que são preguiçosos e aproveitadores...
Mas não é assim para Julim. Para o menino, eles são apenas passarinhos. Afinal, que mal podem fazer ao pegar alguns poucos dos milhares de grãos de arroz? O menino finge espantá-los, enquanto os admira e os observa comer.
A poética obra do premiado autor Itamar Vieira Junior oferece a perspectiva de uma criança para o universo que engendra seu livro mais famoso, Torto Arado. Além de questionar qual seria, de fato, a praga dos campos, este texto de literatura infantil nos aproxima, de maneira sensível e singela, da realidade de muitas crianças, para que outras possam ter consciência das desigualdades do nosso país.
As pinturas de Manuela Navas completam a narrativa com um realismo lírico, ampliando e aprofundando o conteúdo das páginas, enquanto nos tocam e emocionam com a beleza comovente que compõe o dia a dia nas entranhas do Brasil.