As galinhas dividem o tempo entre chocar os ovos, realizar intervalos para esticar as pernas e fazer pilates. Três galos, ao se darem conta da ausência de algumas moradoras do galinheiro, acreditam estar frente a uma verdadeira desordem. A fim de aproveitar melhor o tempo das “operárias” e garantir a eficiência na produção dos ovos, os galos limitam os minutos gastos em intervalo e traçam no chão um sistema de coordenadas, dando a cada galinha um número e uma letra como identificação. Ora ovos, será que essa organização vai funcionar?
A lógica da produção máxima e da gestão do tempo para cumprir com a meta de entrega de resultados é uma mentalidade fruto do sistema capitalista. Primeiro, o trabalho é sistematizado; em seguida, o tempo livre é reduzido para que se passe mais tempo na produção. O bem-estar deixa ser um fator relevante e, gradualmente, ocorre a perda de identidade ao retirarem os nomes e passarem a se referir às galinhas (ou pessoas) por meio de coordenadas. Perde-se a individualidade e cada indivíduo se transforma na função que exerce. Nas ilustrações de Laurent Cardon, é possível notar que, antes da implementação do sistema dos três galos da fábula, as características particulares de cada galinha revelavam facetas de cada individualidade.
A história também abraça a representação da diferença entre conceitos de paternidade e maternidade, dando atenção à sobrecarga do trabalho feminino. Ao mesmo tempo que a função de chocar os ovos é vista como um atributo exclusivo das galinhas, vemos que é negligenciado a elas o tempo para o autocuidado.
Este livro é lançamento exclusivo do Clube Quindim em parceria com a editora WMF e é o segundo volume da trilogia Histórias de Galinhas, uma série que começou com Juntos e misturados (2020). Após a leitura, vale a pena discutir sobre o equilíbrio entre trabalho e descanso, como também sobre a divisão de responsabilidade entre os responsáveis pela criança.