Este livro de Leo Cunha, lançado pela primeira vez em 1998, divide-se em duas partes: Cantiga e Mente, cada qual com ilustrações diferentes de Marilda Castanha e Nelson Cruz.
Abrindo a primeira seção, a primeira estrofe de “A mão do poeta” é a retomada de poemas de Sylvia Orthof, lembrando-nos que a caneta é varinha de condão para quem tem mãos de fadas e depois sai descrevendo outros jeitos de fazer poesia: mão de obra, um tijolo sobre outro, mão-leve, roubando sonhos infantis, mão na massa ou no mouse, mão na roda que nunca sairá de moda. O poema título do livro — "Cantigamente" — é dedicado a Mário Quintana e fala de outros tempos, dos bondes pelas ruas, das matinês aos domingos. Então vão vindos poemas curtos que brincam com coisas leves, distantes, contadas em outros livros, numa atmosfera de sonho onde gatos são pardais. Tudo evocando noites e cantigas.
Na parte que se diz Mente, há mais espaço para o trocadilho, o nonsense, os jogos de composição e decomposição de encontrar uma palavra dentro da outra, a ambiguidade, as dúvidas, redizer frases feitas e fazer temas de fundo social, como o mendigo, o pivete, a moradia, a exploração, o trabalho que necessitamos escolher, a burocracia — e também a rebeldia do poeta que insinua quanto o poder da palavra pode melhorar o sentido do mundo.