Um jovem pardal consegue comer as melhores migalhas por sua agilidade. Um dia, o seu bico quebra sem querer e ele passa a ter dificuldades para pegar as migalhas, ficando, então, com as piores. Os outros pardais não o ajudavam, por acreditar que alguém faria isso, ou porque, se o bico dele estava quebrado, ele deveria ter alguma culpa.
Com o tempo, o jovem pardal emagreceu, perdeu sua força e deixou de voltar para a árvore onde morava, ficando ali mesmo, perto da comida. Com fome e sem casa, o pardal enfraquecia e sua aparência definhava, fazendo com que o ignorassem mais. Era como se ele não fosse mais um deles.
Em uma tarde, o pardal encontrou um pedaço enorme de pão fresco. Assim que se aproximou, surgiu uma mão. O homem que segurava o pão era diferente das outras pessoas. Era magro e estava sujo, solitário e triste. O pardal e o desconhecido tinham muitas características semelhantes e se conectaram a partir dessa identificação mútua. O pardal percebeu que o desconhecido também tinha o bico quebrado, só que era um bico invisível. Um reconheceu a existência do outro e, assim, se uniram.
De forma muito sensível, esta história resgata a humanidade de uma pessoa em condição de rua e revela como o individualismo contribui para que esse cenário se configure. Alguém estar isolado e em situação desfavorável é, em parte, reflexo da falta de assistência às pessoas que precisam de algum auxílio, já que somos seres organizados socialmente.
Nesta narrativa, homem e pássaro se enxergam para além de seus bicos quebrados e reconhecem suas existência em uma história de amizade e companheirismo.