Sempre divertido e ousado, Roald Dahl não se cansa de mesclar fantasia, terror e fazer crítica aos hábitos dos adultos sob o olhar infantil e inteligente de seus personagens. Dessa vez, o autor empresta voz a um menino que narra sua aventura contra bruxas modernas que ninguém desconfia quem elas sejam, incrivelmente más e mesquinhas, carecas e nojentas, pois sempre andam sob o disfarce de mulheres de nosso dia-a-dia, um pouco metidas, contudo cheias de glamour, amabilidades e doçuras.
Após perder os pais em um acidente no final das férias, o narrador passa a viver com sua sábia e carismática avó norueguesa. Ela o adverte dos perigos do mundo, contando histórias que podem aliviar o luto e, ao mesmo tempo, perceber que existem pessoas com intenções torpes sob a aparência da generosidade. Bruxas verdadeiras existem de verdade, ela lhe assegura, e também ensina como reconhecer uma, caso o neto, um dia, pise em sua sombra... Roald Dahl dedica um capítulo inteiro a descrições bem detalhadas!
E acontece, logicamente, que o menino irá se ver cara a cara com a Grã-Bruxa, a mais asquerosa, em uma viagem que faz a Bournemouth, uma cidade litorânea da Inglaterra, para onde vão muitos velhos cuidar da saúde. No Majestic Hotel, o personagem conhece Bruno Jenkins que, por sua gulodice, é transformado em rato. Porém, nenhuma outra criança parece estar segura porque decisões de grandes consequências estão sendo tomadas exatamente ali, no encontro anual da Convenção das Bruxas...
Habitualmente classificado como um sombrio romance de fantasia para crianças, a narrativa funciona como um intrigante modo de alertar os leitores sobre os perigos e os excessos da sociedade contemporânea, tendo sido publicada em 1983. As bruxas de Dahl já foram levadas para leitura em áudio-livro, peça radiofônica, teatro, ópera e dois filmes de longa metragem: uma adaptação em 1990, com a atriz Anjelica Huston, e outra em 2020, com Anne Hathaway. Contudo, o final do livro se mostra mais inquietante e promissor. A nova edição brasileira resgata os desenhos originais de Quentin Blake, feitos a traço em bico de pena, merecendo destacar as páginas em que aparecem a receita da Fórmula 86 de Ação Retardada para Fazer Ratos e a transformação do narrador, onde vemos que mesmo histórias longas podem beber da magia (ops!) da linguagem dos álbuns ilustrados.