A vida corre como um rio. E entre o nascer e o fim: mistérios, lutas, amores, dores. Para alguns, existir é andança em busca de uma missão, como para a personagem reinventada por Osvaldo Costa Martins e Luci Sacoleira. Narrado na primeira pessoa, essa espécie de diário traz a jornada de Antônio Conselheiro. Desde criança até o terrível desfecho na Guerra de Canudos.
“Meu pai não era bom de solidão” registra a perda de sua mãe e a chegada de uma madrasta que muito lhe fez sofrer. De menino sozinho ao adulto às pressas, há fome, miséria, dívidas e muitas dúvidas. O peregrino se arruma de amor e segue sertão adentro, em busca de um lugar melhor para viver. Mas a busca não era só pelo pão, ele carecia de palavras, respeito, verdades. Para si e para o povo sertanejo, que das autoridades só recebia descaso e cada vez mais impostos e imposições.
Sua indignação o faz passar por uma profunda transformação e logo mais se declara um conselheiro de gentes, buscador de paz e de direitos. E por isso é perseguido pela República e por todos os poderes dos homens na terra. As ameaças e difamações a seu respeito conflitam com os já milhares de cidadãos que fazem de Belo Monte um lugar autossustentável e harmônico. A guerra se anuncia por parte daqueles que se incomodam com a dignidade de um povo e faz sangrar o novo sertão.
Conhecer a História do Brasil por meio da Literatura pode ser um deleite, como a leitura desse livro. O texto é poético, político, democrático. O autor usa boas ferramentas para contar em algumas páginas toda a jornada de um líder. Há momentos que as palavras ganham a sonoridade de um cordel. As ilustrações banham o texto com arte, originalidade e ousadia. Desde a primeira página dupla que encena o nascimento do protagonista, passando pelos detalhes das personagens com pequenos galhos de plantas na cabeça ou na boca, até a última página com a dor e a paz que é o fim da existência.