Era hora de lavar a louça, regar as plantas da casa, colocar o prego na parede... Nunca era hora para Bernardo. O menino alerta a mãe, avisando que há um monstro lá fora, querendo devorá-lo. "Agora não, Bernardo", ela responde. Bernardo vai ao jardim e cumprimenta o monstro. Dito e feito, a criatura o devora e entra para dentro de casa no lugar do menino. Peludo, roxo, com dentes pontiagudos, unhas compridas e chifres, o monstro assusta a mãe com um rugido, morde o pai, mas nenhum deles nota que aquele não é Bernardo.
A falta de atenção dos pais ao filho pode ser motivada pela automatização das relações pessoais, pelo desinteresse ou pela sobrecarga de tarefas e responsabilidades. O monstro na história é um personagem separado do garoto. Mas não seria Bernardo o próprio monstro, revelando mau humor ao tentar enfim chamar a atenção? É uma narrativa que traz elementos de crítica ao mundo adulto, com pitadas de ironia e, mesmo assim, nos emociona quando nos identificamos com os sentimentos de Bernardo.
Os cenários de David McKee são simples e dão destaque à ação das personagens. É possível notar como as expressões faciais são fundamentais para a leitura, por exemplo, quando o pai se distrai do que está fazendo e acaba martelando o próprio dedo ou a mãe rega uma planta e deixa a água escorrer pela mesa, ao ouvirem Bernardo chamando. No quarto do menino, há uma referência a outro personagem criado pelo autor britânico: Elmer, o elefante xadrez.