No Brasil, segundo o Senso de 2020, há 7.103 localidades indígenas. Nelas, há povos diversos com seus costumes e leis particulares. Entre eles há alguns princípios semelhantes, como o respeito à natureza e aos animais, o que vemos transbordando neste livro-imagem composto por Graça Lima.
Na página dupla que abre a primeira cena da história, está um garotinho indígena no meio da floresta. À primeira vista, podemos pensar que se trata de um episódio triste, pois ele está, aos nossos olhos, sozinho entre as árvores, numa terna paleta de cores verdes com marrom. Para nosso engano, é apenas sua travessia entre um abaré e outro até chegar à contemplação do nascer do sol, que também é seu abaré – abaré significa amigo na língua tupi-guarani.
Ao mergulhar com o boto, o protagonista torna-se mais um integrante do rio, entre tantos peixes. Na fantasia que a obra transmite, a bravura e o conhecimento do garoto sobre o comportamento dos animais é tão natural que ele é capaz de convencer um jacaré a refazer sua rota e deixar sua caça para depois. Engraçado é como ele se diverte quando encontra um bando de macacos: pula, salta, imita os bichos com humor... até surgir um grande perigo! É a feroz onça-pintada que chega, os assusta e os ameaça com presas e rugido aterrorizantes! Mas só até o garoto se recordar do que precisa fazer para colocar a bichana pra correr. Fauna, flora e criança reunidas, brincantes e antagônicas mas entrelaçadas no meio em que vivem. Pertencentes a uma só natureza.
Bem, o dia do garotinho é mesmo repleto de emoções. E ele conta tudo isso aos seus ao retornar à tribo, de frente para a fogueira, banhado pela lua.
A autora cria uma aquarela para cada cena, na tentativa de nos aproximar do que de fato é a exuberância da floresta. Nesta edição, ao final, relata a origem da ideia do livro e nos questiona: “E o seu abaré? Quem ou o que é?”.