Um livro de imagem para ler, um livro de ideias para ver — entre a lua que olha e o leitor, viramos a página, damos uma rápida piscada e agora ela já parece dormir, ao mesmo tempo que o sol brilha num amarelo ouro, antigo e atento... O convite à leitura de imagens pode ser um jogo delirante no qual o observador sempre buscará pescar, puxar algo de sua memória que possa reconhecer e fazer algum sentido entre os desenhos.
Veja! Lá vem uma locomotiva que parece um brinquedo de outros tempos ou uma máquina saída de um desenho animado, com seu bigode varrendo o trilho adiante e o olho de farol. A locomotiva puxa o trem: o primeiro vagão serve café, o segundo vagão carrega uma vaca xadrez para nos dar uma xícara de leite e depois, olhe lá, a queijadinha na forminha de papel. Ou seria uma empada?
Trata-se de um livro de imagem descritivo. Utilizando o traço em bico de pena, Alexandre Camanho imprime em seu livro lembranças e delírios que a imaginação permite misturar e puxar numa linha de lógica e metáfora. O texto visual obedece, assim, a uma ordem conceitual que vem expressa desde o título: a vida é um trem, um brinquedo ou uma longa viagem. Como definir a vida? O autor acrescenta em seus desenhos uma pitada de saudade para os leitores que não são mais crianças, ativando a memória de outros livros e artistas, como Juarez Machado, Rui de Oliveira e Renato Moriconi, brincando com personagens de circo, teatro de variedades e fábricas fantásticas.