Há muito, muito tempo, o rei de Portugal quis dar um presente único ao papa, que ficava em Roma. Para isso, ele escolheu nada menos do que um elefante. A questão é que o rei nunca tinha visto um exemplar desse animal na vida.
Além disso, as viagens intercontinentais não eram nada parecidas com o que vemos hoje. Não só eram arriscadas, difíceis e custosas, como também eram muito demoradas. Imagine, então, transportar um animal imenso como um elefante! Não bastasse tudo isso, ainda tinha mais um detalhe: como saber se o que de fato estava sendo transportado era mesmo um elefante? E, se não fosse, será que o rei estaria disposto a admitir seu erro para os súditos?
A obra de Tadeu Sarmento tem muitas camadas e pode gerar ótimas conversas com os pequenos. Além de navegar por um mundo que não existe mais e de trazer uma profunda reflexão sobre a nossa relação com a natureza e com a vida em sociedade, a narrativa também traz provocações sobre questões contemporâneas, como a distinção entre verdade e mentira, fatos e imaginação, ciência e fantasia, estimulando o pensamento crítico das crianças. Tudo isso de maneira sagaz, onde os animais possuem características e comportamentos humanos, conduzindo a narrativa.
Não deixe de observar atentamente as ilustrações de Samuel Casal. Elas remetem aos chamados bestiários. Esses livros eram como coleções que misturavam gravuras de animais reais e imaginários (ou a combinação de características entre eles), sem que houvesse uma sinalização, para o leitor do que existia de verdade ou não.