No começo do século XVI, o rei de Portugal quis dar um presente único ao papa e escolheu nada menos do que um elefante. A questão é que Manuel I nunca vira um exemplar desse animal na vida. Além disso, as viagens intercontinentais não eram nada parecidas com o que temos hoje. Não só eram arriscadas, difíceis e custosas, como também eram muito demoradas. Imagine, então, transportar um animal imenso como um elefante!
Não bastasse tudo isso, ainda havia mais um detalhe: como saber se o que de fato estava sendo transportado era mesmo um elefante? E, se não fosse, será que o rei estaria disposto a admitir seu erro diante dos súditos?
A narrativa de Tadeu Sarmento, baseada em fatos históricos que se tornaram uma grande anedota através dos séculos, possui também muitas camadas e pode gerar ótimas conversas com os pequenos. Além de navegar por um mundo que não existe mais e de trazer uma profunda reflexão sobre a nossa relação com a natureza e com a vida em sociedade, a trama encena provocações sobre questões contemporâneas, como a distinção entre verdade e mentira, fatos e imaginação, ciência e fantasia, estimulando o pensamento crítico das crianças. Tudo isso de maneira sagaz, onde os animais possuem características e comportamentos humanos, conduzindo a narrativa.
Não deixe de observar atentamente as ilustrações de Samuel Casal. Elas remetem aos chamados bestiários, um gênero editorial bastante comum à época de grandes navegações e descobertas por mares e terras distantes. Esses livros eram como coleções que misturavam gravuras de animais reais e imaginários (ou a combinação de características entre eles), sem que houvesse uma sinalização, para o leitor do que existia de verdade ou não.