Na memória popular e literária, existem muitas histórias de pescadores. Podem ser contos, recontos, parábolas ou anedotas que narram o encontro com algo surpreendente, um tesouro, um peixe de ouro, um peixe que fala e concede três desejos. É assim que pescar um peixe é pescar a sorte grande, ou seja, um destino totalmente diferente. Esse parece ser o desejo humano mais comum, trazer à tona uma nova vida.
Mas... O que poderia acontecer neste nosso mundo contemporâneo, quando um homem sério, destes que andam de terno, gravata e sem tempo para nada, decide inesperadamente descer o elevador do grande prédio da empresa e ir pescar no rio que corre sem pressa no meio da cidade? Pois Marilia Pirillo conta, com ironia poética, que o homem usou como isca algumas das minhocas que viviam em sua cabeça e, sob o sol do meio-dia, conseguiu pescar um reluzente peixinho que virá virar sua vida pelo avesso. Tratando de vários assuntos relacionados ao trabalho e o tempo de ócio, liberdade e aprisionamento, adaptação e adequação a um mundo frenético, utilitário e que nos foi dado antes mesmo de nascermos, a narrativa vai se agigantando sobre uma questão bastante premente e existencial: entre o homem e seu amigo de escamas, qual dos dois é um peixe fora d’água?