A voz narrativa desta crônica nos alerta: atravessar a linha do tempo bem acompanhada de pai e de mãe poderia ser um direito de todos nós. Seguir vida a dentro junto de mãos tão atenciosas, não nos poupa de perdas e frustrações, mas certamente, ameniza os impactos e nos concede a segurança necessária para estar na vida.
Uma garotinha nasce e cresce num berço familiar que lhe estende a mão o tempo inteiro. Seja afagando, ajudando com a tarefa de casa, negando uma peripécia ou até mesmo transformando um momento de dor em pirulito. Opa! Em alegria. Na maior parte do tempo, seu pai a acompanha e a cena em que ele corta o cabelo da pequena nos remete a uma realidade em que pai e mãe são os responsáveis por praticamente todos os cuidados da criança.
A autora Marilda Castanha viaja por outra década e recria um cenário rural onde se ouve rádio a pilha e a locomotiva surge a todo vapor. É um lugar em quem as mãos cuidam dos animais e das plantas - e que bela horta elas cultivam! Pai e filha desfrutam das produções, do espaço ao ar livre, do domingo aventureiro, das férias em outros campos. Os dois seguem juntos e enfrentam perdas difíceis, como a morte de quem amam muito.
O ciclo da vida se apresenta sob vários aspectos neste livro: as maneiras como cada um usufrui do que está ao seu redor, a dicotomia entre morte e vida, a criatividade como aspecto essencial ao bem viver, o senso de coletividade, a solidariedade e o companheirismo ilustrando que juntos somos mais fortes. Para a protagonista foi ofertado um chão firme para atuar. Ainda que chore, sabe ser possível caminhar com entusiasmo.
Acompanhar a passagem do tempo pelas páginas deste álbum ilustrado pode causar uma emoção daquelas! Isto porque dificilmente se passa ileso pela visita à infância e é impossível ser indiferente a finitude da vida.