A obra dos austríacos Heinz Janisch e Helga Bansch é uma narrativa muito bem articulada. O espaço em que o conflito se passa é bonito, pensado em tons ternos que acalma o olhar e, por meio de colagens e elementos pontuais, facilmente leva o leitor a se reportar a um tempo e um espaço longínquo e até místico.
Entre vales e um rio, há uma ponte longa e estreita que une o topo de uma montanha à esquerda e outra à direita. Num certo dia, um gigante e um urso se topam bem no meio da ponte, ambos querem atravessar ao mesmo tempo, contudo, percebem que isso é impossível e juntos buscam encontrar uma saída.
Diálogo e bom senso são peças fundamentais na vida em sociedade. Impossível existir em coletivo sem a ponderação da palavra, a audição apurada. Existir perpassa pelo outro e exige de nós atenção e cuidado. Ceder não significa fraqueza, ao contrário, pode ser um ato inteligente e generoso em prol do bem comum. Não existe "eu" sem o "nós".
A ilustração é realizada em técnica mista, usando tinta, colagem, lápis aquarela e o grafite aparente do desenho. A experiência de leitura visual desse livro é muito interessante. Assim como o texto pede flexibilidade e um olhar à diversidade, as imagens possuem um movimento próprio e convidam o leitor a sair da zona de conforto e desdobrar os sentidos. Após resistências, ideias inviáveis e diálogo, algo se descortina para os dois e para o leitor, que acompanha tudo por meio de uma câmera em ângulos diversos. Na sequência de páginas, Helga explora várias facetas do olhar e como se fossem tomadas de câmera: ângulos, perspectivas, proximidade e distância, juntamente à linguagem das histórias em quadrinhos, criando sua narração visual.