Imagine que as mil e uma noites possam descarrilhar e... velhinha, muito velhinha, Sherazade engasgasse sempre a contar mil e uma vezes as aventuras até a octogentésima octogésima oitava! Pois a hábil narradora tornou-se preceptora de futuras contadoras de histórias no harém de um despótico sultão. É lá que encontramos a personagem principal deste romance: ela é Leila, uma odalisca de orelhas perfeitas por quem o soberano se apaixona ao encontrá-la nos labirínticos corredores do palácio.
A menina tinha sete anos e será preciso esperar o tempo de amadurecer para o homem declarar sua paixão. No entanto, no mesmo dia em que a odalisquinha tropeçou no sultão, o poderoso havia recebido um presente do rei dos gregos e troianos: um elefante branco retirado das savanas africanas. Hati escondia dentro da couraça o poder especial ou estranho de sonhar incríveis sonhos por onde ele e a jovem odalisca irão se ver e rever!
Está traçado o triângulo amoroso e — como as esquinas e os espaços dos corredores incontáveis do palácio, o texto revela que há um pouco de todas as histórias em todos os amores, do passado e do presente. Ao clima oriental, unem-se à voz do exagerado narrador o eco das canções do morro, da favela, dos discos do tempo do vinil, dos poemas e dos romances dos livros de outras épocas, dos rolos manuscritos e dos rolos enciumados, quando um tirano faz e desfaz para separar um casal apaixonado.
A capa do livro chama atenção por apresentar a arte de Henri Matisse, uma impressão em litografia de 1951, em cores vivas e formas estilizadas. O original medindo 31,1 x 83,2 cm, contém uma legenda em meio aos corações da imagem que diz: ela viu surgir a manhã, ela calou-se discretamente.