Um poema que é um libelo e um alarme contra a mancha que avança na água do mar. Após as primeiras páginas dominadas pela mancha escura, uma mancha de óleo sobre o azul marinho, deixando ver a silhueta branca de uma arraia, um polvo, um rabo de baleia, os primeiros versos já convocam o leitor a participar de uma tomada de consciência: como é que você acha / que cresce aquela mancha? E vemos imediatamente a mancha como uma garra que nos atacará, se espalhando, levando o terror cor de piche por onde ela passa... tomando e matando várias algas e conchas, peixes e outros bichos!
Com a beleza das coisas estranhas, sinistras, os versos e as imagens revelam o desastre ambiental sobre todas as coisas que se transformam em um triste lixo, depositado nas areias, nos seixos, aos pés de que vai à praia. Há pessoas que se esforçam para conter a sujidade, num trabalho que parece em vão ou tardio, enquanto muitas outras fecham os olhos — é o que evidenciam Gontijo e Kondo. A mancha insistentemente, inquebrável, avança muito mais rapidamente... Por quê?
Sabemos muito bem. Porque alguém antes não tomou para si a sua responsabilidade. Nós somos nosso próprio ambiente ecológico, humano e moral.