Inventar, contar e escrever uma história são três atividades bastante diferentes, porém poucas pessoas entendem isso, como também são momentos diferentes viver uma leitura, aventurar-se com os personagens ou então resumir os fatos passados no ambiente da ficção. Pois bem — estar dentro e fora do texto: são estas as preocupações de José Saramago, ao escrever e quase contar um conto sob o título A maior flor do mundo.
Logo no início, o autor se coloca frente aos leitores como um pessimista, talvez fracassado narrador de histórias para crianças, compartilhando a dificuldade que tem para encontrar as palavras, o tom e o ritmo certo das frases para conduzir um leitor tão especial no embalo de seu enredo. De sua confissão, o personagem principal, o conflito, a trama, umas poucas ações vão sendo descritas. Este Saramago faz um resumo da história que pretende contar...
No entanto, ao término do livro, resta uma sensação de termos lido duas ou mais histórias: a desventura de um escritor em sua mesa de trabalho e o grande feito épico de um menino numa aventura que ainda não foi escrita! Como pode? Este é um jogo literário que apresenta ao pequeno leitor ou o leitor mais experiente às tramas da meta-ficção. Nesta teia de possibilidades, vale prosa e vale poesia, também vale a ilustração do livro feitas por João Caetano, em 2001, para juntarmos as pistas e desvendarmos o mistério.
Quer saber o milagre que saiu das mãos do menino para fazer-se herói de sua aldeia? Leia com atenção o poema contido no meio do texto de Saramago, de alto a baixo, do último verso ao primeiro: sinta que é como se descêssemos e subíssemos uma montanha... Veja também ao lado da escrivaninha do escritor a luminária acesa com pétalas que são pedaços de um mapa. É divertido e poético tramar e retraçar caminhos de leitura por entre as páginas de um livro.