Era uma vez uma ilha onde se tinha tudo: árvores, casas, praça e uma montanha, com uma cratera de vulcão no meio. Certo dia, os continentais desembarcaram na ilha. Trazidos por um navio, eram parecidos, mas ligeiramente diferentes dos habitantes da ilha. A diferença estava nas roupas, nos penteados e na maneira de falar. Rapidamente, o modo de ser dos estrangeiros passou a ser imitado, pois todos queriam se comportar igualzinho aos continentais. Mais do que isso, os ilhéus queriam SER continentais e para isso acreditavam que bastava construir uma ponte entre a ilha e o continente.
O livro de João Gomes de Abreu e Yara Kono levanta questões ecológicas, políticas e sociais. No afã de construir a ponte que os levaria (e elevaria) até o continente, os habitantes da ilha utilizam as pedras da montanha, a madeira das árvores e a areia da praia, esgotando todos os seus recursos naturais. O paralelo entre extração e construção aparece na linguagem do texto, que coloca as ações na mesma frase, nos possibilitando refletir sobre a relação de causa e consequência entre a destruição da ilha e a construção da ponte.
Em determinados momentos, a história usa de fórmulas de repetição como fazem os contos tradicionais, enfatizando, com esse efeito estético, o gradual processo de esgotamento dos recursos naturais e econômicos. Em prol de uma vida que consideram melhor, os ilhéus deixam suas profissões para se dedicar à construção da ponte, no que parece ser um esgotamento também dos recursos humanos. Pois a ponte é um tanto exigente, precisa ser funda, alta e o continente é muito longe. Rico em metáforas, o texto pode se desdobrar em discussões profundas sobre consumo, desenvolvimento, capitalismo, neocolonialismo, desenvolvimento sustentável, modo de vida contemporâneo, dentre muitas outras possibilidades. E onde será que essa ponte vai dar?