Este é um conto que se assemelha a muitos outros com sua estrutura repetitiva ou acumulativa, o final em suspense numa casinha aos pés de uma montanha, além do lago, depois da floresta... Mas é um conto de vocação para a farsa, uma sátira, e assim a história escrita por Santiago Nazarian poderá ser lida em vários registros. Vejam só, tudo começa numa festa, com a certeza viva de homens e mulheres, velhos e crianças: mataram o dragão.
No meio de sons de violas e violinos, vozes, cheiro de tortas doces, churrasco, bebidas, dança, numa descrição caudalosa envolvendo toda gente, surge uma dúvida: quem matou o dragão? a quem deveriam prestar homenagens, fazer uma estátua, entregar a chave da vila? a quem seus corações seriam eternamente gratos?
Então foi que o povo do lugarejo olhou a si mesmo e confirmou que ninguém ali teria tido força, coragem ou estratégia para matar um dragão. Logo acreditaram que só poderia ser o desconhecido herói aquele sujeito no final da floresta... Os homens diziam que era ele um grande figura, as mulheres suspiravam: tão lindo, tão sozinho! Os velhos e as crianças já o admiravam. Todos na vila desejaram conhecer de perto o Salvador... E todos se colocaram em marcha para o lugar distante, em turnos separados, cada grupo trazendo da visita sem sucesso novos e estranhos sentimentos para a festa.
Todos fizeram muito barulho, fizeram também passeatas de lá pra cá — e os leitores podem fazer uma boa leitura para os dias tumultuados de hoje também.