Sem querer, uma menina (também poderia ser um menino) queima a toalha favorita de sua mãe com ferro de passar. Não era uma toalha qualquer! Ela fora bordada por sua avó e possui um grande valor sentimental. Ao ver a mancha amarelada, estampando no tecido o formato do ferro de passar, o que se poderia fazer?
O narrador deste relato (ou seria uma pequena narradora?) deseja fugir e se esconder, pensa em colocar a culpa no irmão mais novo ou sumir, de uma vez por todos, com a dita toalha. Sente vergonha ao constatar que nem mesmo os mais sábios conselhos, os mais caros alvejantes e as mais sinceras rezas seriam capazes de apagar a mancha que, no tecido, parece ser invencível. Enquanto pensa e repensa, sua mãe retorna, abre a porta... E agora?
A belíssima obra de Iwona Chmielewska, eleita entre os 30 melhores livros infantis pela revista Crescer 2024, fala, com leveza e poesia sobre uma situação pela qual muitos de nós passamos durante a infância: quando estragamos irremediavelmente um objeto especial de alguém querido. A mistura de medo e vergonha, o remorso, a aflição, tudo isso se funde com a ansiedade pela chegada do momento em que, enfim, vão descobrir o que aconteceu.
Se tantas vezes fomos repreendidos duramente e passamos a nos sentir ainda pior, agora, adultos, temos a oportunidade de agir diferente, como a mãe da criança desta história, transformando a lembrança desse acidente em outra fortuna familiar. Assim como a mancha na toalha que, nas ilustrações, virou gaiola, janela, coruja e capelinha, seríamos capazes de ressignificar a memória e surpreendentemente tirar dela algo de positivo?