A jornalista e professora Bianca Santana fala por muitas garotas brasileiras: “Tenho 30 anos, mas sou negra há apenas dez. Antes, era morena”. Ao longo dos relatos, a autora abre as suas memórias, e reescreve cenas do seu cotidiano atrelado ao preconceito e de sua construção de identidade racial. O livro está dividido em três partes: a primeira são situações verídicas vividas por ela, na segunda outros fatos que ela ouviu ou presenciou, e na terceira são ficções.
Bianca lembra de como suas origens eram negadas em casa, na escola e depois na faculdade. Relata as perdas, o suicídio do pai, raivas desconstruídas, sede por justiça social. Lembra também de como deu liberdade ao seu cabelo que vivia preso. Nos textos há sempre uma marca de tempo muito presente. Bianca enumera os anos para quantificar o tempo não vivido como uma garota negra, quantifica o tempo para dar o peso necessário aos dias e horas em que não foi ela por inteira, com base em suas referências originárias.
O livro denuncia o racismo que existe no Brasil, com exemplos claros de situações que a própria autora vivenciou no aeroporto, em debates políticos, no restaurante, em um hotel na capital baiana quando foi “confundida” com uma prostituta. Entre as tensões, dramas reais e dúvidas, a mulher Bianca se reconhece e se transforma para poder falar dessa ferida aberta que é o preconceito racial em nosso país.
Dividido em três partes, o livro recebe as ilustrações de Mateu Velasco, valorizadas pelo projeto gráfico de Raquel Matsushita. A proposta é de páginas pretas com texto e imagens na cor branca.