A praia, o mar, a vida e um livro têm segredos — e a artista e autora sul-coreana Suzy Lee tem composto narrativas visuais em que a paisagem e as brincadeiras de criança coincidem com a própria exploração do espaço gráfico, onde as imagens se movimentam bem humoradas, misteriosas, silentes, retraídas, vagarosas, traiçoeiras também...
Nos desenhos a carvão, vemos a menina vindo à praia, afastando-se da figura materna a fim de encontrar o mar de um intenso ciano com suas marolas de espuma branca. Na abertura de páginas, no entanto, a menina e o mar ocupam um lugar oposto. Enquanto ela observa a água com respeito e cautela, a criança mesma é observada por gaivotas galhofeiras que imitam seus gestos de bravura, rugido, receio e contemplação: ora, o mar não chega a bater na areia da praia — o mar bate na margem da dobra interna do livro!
Essa descoberta é o ponto alto da obra e poderia ser denominada: ousadia. É a autora quem ousa ao propor uma história que só possa ser contada em livro, é a personagem quem ousa a ultrapassar o limite do espaço entre as páginas e o limite de sua curiosidade para desafiar aquela porção do mar que nem sempre será passivo, mas explosivo — inundando tudo o que há de céu e espaço gráfico, tingindo-os de azul.