Junto de sua mãe, uma menina viaja para uma aldeia. Em volta da fogueira, dentro do casulo formado pela rede, elas se juntam a outras crianças e adultos para ouvir histórias contadas pelo velho Ataina para seu povo.
Uma dessas histórias embala mais intimamente, invade a menina e se mistura com seu sonho: era o conto sobre outra menina de pele cor de areia, assim como ela mesma. Atolô, que outros povos também chamam Maní, saiu um dia para procurar alimento com sua mãe na floresta. Quando chegaram a uma clareira, ela pediu: “Mãe, me enterra aqui, acho que vou morar nesse chão”.
A história contada por Rita Carelli, lindamente ilustrada por Luci Sacoleira, resgata a força mítica que se esconde em muitas outras versões da conhecida lenda da mandioca e sua relação dos povos indígenas com esse alimento fundamental, mostrando-nos uma amplitude de beleza em respeito à terra e toda a natureza integralmente. Uma obra com tantas camadas que pede, quase exige, que sejam feitas diversas leituras na tentativa de enxergar e abraçar as diferentes dimensões trazidas pelas autoras. Em conjunto com as palavras, as ilustrações nos transportam para o ambiente da floresta, com suas cores, sons e cheiros, encantos e mistérios. Por meio delas, é possível vislumbrar a sintonia entre a natureza e seus residentes originários. São eles que, de fato, compreendem como uma relação saudável e equilibrada está na nutrição e respeito mútuos, e não na mera exploração como víamos ainda poucos anos atrás.