Nesta história, uma menina tem uma vida bastante normal, com "macarrão com tomate, leite com chocolate, biscoito de maisena", e até com coisas que nem todo mundo tem, como um balanço na árvore. Seu pai costumava viajar e voltar logo, mas um dia ele demora mais e ela pensa que ele nunca mais vai voltar, nunca. E as coisas vão ficando cinzas, chega uma tempestade e ela demora a aprender a lidar com esse novo sentimento que nem sabe nomear, mas que a deixa amarrotada.
Neste álbum ilustrado, a linguagem verbal e visual contam a história de maneira indissociável. E o objeto livro em si também tem um papel importante na narrativa, que ao propor a leitura de cima para baixo reforça ainda mais a ideia de uma separação, do "lá" da página de cima dominada pela imagem e do "aqui" da página de baixo dominada pela palavra. Ao explicitar o "aqui" é como se o leitor se tornasse uma terceira personagem da história, uma testemunha muito mais próxima desse relato. Essa divisão apenas se quebra quando a menina consegue lidar com os seus sentimentos.
As técnicas utilizadas também variam ao logo do livro e são usadas de maneira consciente pela autora para expressar os sentimentos da personagem. As ilustrações começam em preto, branco e tons de cinza, ganham um fundo de papel marrom amassado até finalmente ganharem um tom de amarelo que aquece o corpo e a alma. E aqui quem decide o final da história é o leitor.