Da sua janela, o menino vê um castelo no alto do morro, vê crianças brincando, animais passeando, telhados, casas coloridas, gente que trabalha, estuda, cuida e se diverte. Alguns dias são cinzas, outros, barulhentos e as crianças não podem sair para brincar. Mas nesses dias, o menino olha para dentro e encontra um arco-íris em forma de livro.
O escritor e morador da comunidade do alemão, Otávio Júnior, nos apresenta a sua casa e seu quintal e nos convida a olhar através de outra perspectiva. Um olhar poético, humano, diverso e genuíno de quem está do outro lado da janela. Se nos noticiários a favela sempre aparece relacionada à pobreza e a violência, aqui, ela é lugar de todas as cores, de dias bons e ruins, de luta, espera, alegria, esperança, gente que se ajuda e luta por uma vida melhor. Quando os dias são cinza chumbo, o menino vislumbra a favela do alto da montanha, acima das nuvens carregando o seu tesouro agarrado ao peito. Uma porta virada para o sonho e a subjetividade, uma ponte para a superação.
As ilustrações multicoloridas de Vanina Starkoff misturam fotos e desenhos cheios de detalhes que lembram a arte naif, imagens que trazem a cultura da favela: as brincadeiras de lata, de pipa, o banho na laje, as roupas penduradas, o uniforme da escola pública, as motos, as pequenas janelas, a natureza que invade e entrecorta as casas de tijolos. A favela é uma mistura de cores e elementos diversos, assim como o Brasil. Um lugar onde as pessoas sonham e trabalham, são mais que vítimas de balas perdidas e batidas policiais. Ao longo da obra vemos pequenos cantos em foco e terminamos com um plano aberto, numa metáfora da relação entre as partes e todo, que é rico e diverso em tantas particularidades. O livro de Otávio e Vanina é um manifesto pela visibilidade das favelas e seus moradores, um convite a ultrapassar a linha do asfalto e adentrar, desvelando o preconceito causado pela ignorância e pelo medo.