Sylvia Orthof conhece bem fadas e galinhas. Uma ou outra está quase sempre em suas histórias rimadas e ritmadas por frases curtas, festivas e carinhosas. Neste conto, Sempre-Viva é uma senhora, tipo vovó ou bisavó, que usa um leque em vez de varinha de condão. Especialista em bater claras em neves, quando vai pra cozinha ela veste um avental feito de retalhos de firurifim, pega uma tigela, um garfo de imitação de ouro — sinal dos tempos de crise econômica que pega todo mundo! E ela precisa de setenta e quatro ovos para fazer um bolo para a Vossa Majestade... e precisa justamente de uma galinha-fada, nada de galinha frita, assada ou ensopada.
Qualquer ajuda é bem vinda, seja de anjo ou de motoqueiro, um quiriquiqui aqui, um quequequé acolá e a autora-escritora-dramaturga vai puxado uma palavra atrás da outra como se a frase fosse uma corda onde ela se equilibra, primeiro para se divertir, depois para enrolar e laçar o leitor numa trama rocambólica. No entanto, a cada pausa, um comentário astuto Sylvia Orthof dispara: ela lida com imagens e ideias, num tipo de humor circense e teatral que parece vermos o corpo e a fala das personagens cena a cena se contorcendo. Pense na agrura de uma galinha gorda tão gorda, de meias listradas, no momento de colocar o último ovo!
Clara em neve, bolo e no final um suspiro: você come e suspira uma nova história, tal é o convite da história publicada em 1986 com ilustrações originais de Tato e depois, em 2007, com ilustrações de Salmo Dansa, ambos utilizando a técnica do desenho com lápis de cor.