É MADRASTA MESMO!
Você sabia que até meados de julho de 2023, a definição do verbete madrasta no Google era “aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho”?
Pesquisando a palavra “padrasto”, no entanto, a definição era bem diferente, ou melhor, era apenas o que deveria ser mesmo: “homem que se relaciona com uma pessoa que já tem filhos”.
Hoje, depois de um intenso processo iniciado por Mariana Camardelli, fundadora do movimento Somos Madrastas, a palavra passou a ser descrita simplesmente pelo que é, sem juízo de valor: “mulher em relação aos filhos anteriores da pessoa com quem passa a constituir sociedade conjugal”.
A mudança pode até parecer pequena diante das dificuldades e muitas vezes da invisibilidade que as madrastas encontram na sociedade como um todo, mas foi um passo importante para começar a reverter o estereótipo que atinge essas mulheres.
Por muito tempo, não existia também a lei do divórcio. Assim, a figura da madrasta e do padrasto passaram a existir em um contexto literal de substituição de um cônjuge que havia morrido. Compreender esse processo histórico é importante para assimilar de onde vem esse estereótipo imposto às madrastas.
“Não é que existiu uma história real de uma madrasta que foi uma pessoa muito ruim, muito maldosa, e por isso todo esse imaginário foi criado. Em algum momento transformaram a madrasta em vilã e depois foi só ladeira abaixo”, comenta Duda Machado, diretora de conteúdo e gestora de comunidade no Somos Madrastas.
A figura do padrasto, por outro lado, tem uma aura heroica. Um homem tão desprendido e bondoso que passa a cuidar dos filhos de sua amada como se fossem seus. Quanta diferença, não é?
É inegável que houve um avanço no diálogo e na disposição de compreender as origens do estereótipo da madrasta má, mas ainda há muito trabalho a ser feito e espaço para caminhar.
Mas, no dia a dia, dentro das casas e das escolas, ainda são necessárias muitas mudanças. Boa parte se deve ao fato de que a madrastidade é, sim, uma maneira de maternar, mas ainda não é entendida assim por muita gente.
Um dos exemplos são os termos “boadrasta” ou “mãedrasta”, usados inclusive por madrastas para se referir às mulheres que fogem ao estereótipo. No entanto, é importante destacar que o “ma”, de madrasta vem de mater, de materna, e não de malvada.
Duda finaliza dizendo que não é preciso amar como filho, pode amar como enteado mesmo. “Não é um amor menor. Não precisa querer que chame de mãe, pode chamar de madrasta mesmo. Não é uma palavra feia”, conclui.