Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro.
POEMA RETIRADO DO LIVRO OU ISTO OU AQUILO
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá mas inclina o corpo pra cá e pra lá. Não conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda com os bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças.
POEMA RETIRADO DO LIVRO OU ISTO OU AQUILO
Quero, Quero voar. Quero, Quero cantar. Sou porteiro De fazendas.
Sou guardião Das terras. Tudo o que Espero É ser sempre Quero-quero
POEMA RETIRADO DO LIVRO FORA DA GAIOLA
Gaivota Vive lá no céu. Gaivota vai, Gaivota volta, Gaivota vai, Gaivota volta,
POEMA RETIRADO DO LIVRO FORA DA GAIOLA
E os ovos? Quando é que A gaivota Bota?
Como trapezista alcançar o outro num salto: mergulhar em seus olhos, navegar até o fundo. Alcançar o outro no que ele tem de mais belo,
POEMA RETIRADO DO LIVRO MANUAL DE DELIZADEZA DE A A Z
de luz e mel, delicadeza e mistério. E, então, beber a água limpa dessa fonte.
Muitos são os que carregam água na peneira, como disse o poeta Manoel de Barros, e esperança como estrela na lapela. Muitos são os que acreditam em coisas simples e limpas,
POEMA RETIRADO DO LIVRO MANUAL DE DELIZADEZA DE A A Z
em coisas essenciais, amor, amizade, delicadeza, paz, e tantas outras palavras, antigas e urgentes.
Eu queria pentear o menino como os anjinhos de caracóis. Mas ele quer cortar o cabelo, porque é pescador e precisa de anzóis. Eu queria calçar o menino com umas botinhas de cetim. Mas ele diz que agora é sapinho e mora nas águas do jardim.
Eu queria dar ao menino uma casinhas de arame e algodão. Mas ele diz que não pode ser anjo, pois todos já sabem que ele é índio e leão. (Este menino está sempre brincando, dizendo-me coisas assim. Mas eu bem sei que ele é um anjo escondido, um anjo que troça de mim.)
POEMA RETIRADO DO LIVRO OU ISTO OU AQUILO
Andorinha Bem-te-vi Coleirinha Dorminhoco Ema Falcão Graúna Harpia Inhambu Jacutinga Lindo-azul Mainá Noivinha
POEMA RETIRADO DO LIVRO FORA DA GAIOLA
Oitibó Pintassilgo Quiriri Rolinha Sabiá Tico-tico Uirapuru Viuvinha Xexéu Zabelê
A égua olhava a lagoa com vontade de beber água. A lagoa era tão larga que a égua olhava e passava. Bastava-lhe uma poça d’água, Ah! mas só daqui a algumas léguas. E a égua a sede aguentava. A égua andava agora às cegas de olhos vagos nas terras vagas, buscando água.
Grande mágoa! Pois o orvalho é uma gota exígua e as lagoas são muito largas.
POEMA RETIRADO DO LIVRO OU ISTO OU AQUILO
Com delicadeza abrir as gavetas que guardam as palavras de seda. Deixá-las sempre ao alcance de um sopro, prontas para o voo,
POEMA RETIRADO DO LIVRO MANUAL DE DELIZADEZA DE A A Z
para o ouvido, para a boca. Palavras de seda são como borboleta dourada quando pousam no coração do outro.