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Pink Tax: como o mercado cobra mais caro por produtos destinados às mulheres

Pink tax Mulher com a mão na cabeça, expressão de indignação

Você já reparou na diferença de preço entre brinquedos, roupas e calçados destinados a meninas e meninos? E já notou a diferença que há no valor de produtos de uso individual, como escovas de dente, shampoos e lâminas quando voltados para o público feminino e masculino?

Se você achou que isso era impressão sua, ou coisa da sua cabeça, pode acreditar: não é. Os preços mais altos de produtos focados em mulheres e meninas é real e tem nome: chama-se Pink Tax, ou Taxa Rosa.

O que é o Pink Tax, ou a Taxa Rosa

O Pink Tax, ou Taxa Rosa, em português, é o nome que se dá para o valor mais alto cobrado em produtos destinados a meninas e mulheres. Geralmente, são itens cor-de-rosa ou lilás ou, ainda, que contam com elementos tipicamente associados ao universo feminino, como flores, borboletas, fadinhas, personagens femininos (licenciados ou não), dentre outros.

Desenvolver produtos com essas características é uma estratégia utilizada por empresas de todos os ramos, não só no Brasil como ao redor do mundo e, frequentemente, o que vemos são itens absolutamente iguais em funcionalidade, que diferem tão somente pela embalagem, pela cor e, principalmente, pelo preço.

Dados e fatos

Há alguns anos vem sendo conduzidas pesquisas em todo o mundo sobre o Pink Tax e suas consequências. Aqui no Brasil, um estudo realizado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em 2017 traduziu em números o que já sentimos no bolso há anos: produtos de cor rosa ou com personagens femininos custam, em média, 12,3% a mais do que os itens masculinos ou regulares, em que não há especificação do gênero da pessoa para o qual se destina seu uso.

No caso das lâminas, essa diferença de preço é ainda mais chocante e assustadora: pode facilmente chegar a 100% do valor quando comparadas as versões femininas ou masculinas e neutras. Ou seja, o produto feminino custa o dobro do preço de um item comum, simplesmente por ter uma cor diferente ou uma embalagem que indique que é feito para uma mulher.

Lâminas depiladoras: um caso clássico de Pink Tax.

Muitos fabricantes alegam que essa diferença no preço se justifica pelo fato de os produtos considerarem características que seriam típicas das mulheres, como a textura da pele e as curvas do corpo, por exemplo, mas quando as lâminas foram analisadas ficou claro que a alegação não se sustentava.

A presença dessa “taxa fantasma” do Pink Tax – visto que não se trata, de fato, de um imposto, mas, sim, de um sobrepreço – pode ser vista em muitos outros setores, como itens esportivos, acessórios, cosméticos e também medicamentos. Nesse caso, um mesmo remédio com função analgésica pode ter uma grande discrepância de preço quando considerada sua versão regular e aquela voltada para cólicas menstruais, por exemplo, ainda que sejam fabricados pelo mesmo laboratório, utilizando a mesma substância ativa, e contenham a mesma dosagem. O “remédio feminino” se torna mais caro simplesmente por ter a indicação “mulher” ou “fem” na embalagem. Embalagem esta que, por sinal, vai para o lixo.

As consequências do Pink Tax

Podemos dizer que a caracterização de produtos para o público feminino com base em atributos como delicadeza e fragilidade, no mínimo, contribui para reforçar estereótipos como o de que todas as mulheres são desprovidas de força, coragem e resistência.

O fato de que compras de itens femininos custam mais caro do que compras masculinas, por sua vez, reitera ainda mais a ideia equivocada e generalista de que mulheres não sabem gerenciar seu próprio dinheiro, são consumistas e adoram gastar dinheiro com bobagem. Mas esses não são os únicos problemas.

Produtos com preços mais altos sofrem maior tributação, o que dificulta ainda mais a aquisição de itens básicos de higiene e cuidado, especialmente pela enorme parte da população com pouco ou nenhum poder aquisitivo.

Já falamos sobre pobreza menstrual aqui no Blog do Quindim. Os índices de mulheres que não conseguem adquirir produtos de higiene básica para uso durante o período de sangramento, como absorventes internos e externos (descartáveis ou não), sabonetes e papel higiênico é altíssimo. A consequência é um isolamento involuntário, com afastamento da escola, do trabalho e de situações de convívio em comunidade. Como podemos perceber, as consequências do Pink Tax vão muito além do que imaginamos ou podemos notar em um primeiro olhar.

A diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam cargos semelhantes também se agrava quando pensamos no Pink Tax. Uma vez que as mulheres recebem, em média, 30% a menos do que os homens, e acabam gastando cerca de 13% a mais para comprar os mesmos produtos, a discrepância entre o poder de compra de homens e mulheres torna-se ainda maior.

A desigualdade de gênero presente em toda parte

Não é só na diferença dos valores pagos por produtos que a desigualdade de gênero se faz presente. Os salários desiguais, como já dissemos, são outro elemento cruel que precisa ser urgentemente combatido por todos nós.

Há, ainda, uma série de outros preços altos que pagamos por sermos mulheres, e que tantas vezes ficam esquecidos na correria do dia a dia e das demandas da casa e dos filhos. Esses cuidados, justamente, representam uma boa parte deles: o trabalho doméstico não remunerado e invisível que ocupa muitas horas diárias e semanais das mulheres, mas não faz o mesmo com os homens.

Outro desses gastos que se aplicam majoritariamente às mulheres é a pressão estética que se faz notar também no ambiente de trabalho. Mulheres são cobradas para que estejam sempre bem vestidas, com unhas feitas, depilação em dia, cabelo arrumado e maquiadas, o que, obviamente, gera um custo.

Veja também: Como os padrões de beleza afetam diretamente as crianças.

Como driblar e combater o Pink Tax

Além de reforçar a atitude de pesquisa e comparação de preços para toda e qualquer compra que vamos fazer, há algumas outras medidas que todos podemos adotar para coibir o sobrepreço em produtos para o público feminino. A primeira delas é, simplesmente, não comprar.

Se ao comparar dois itens você perceber que não há de fato nenhuma diferença ou vantagem ao optar por aquele que, a princípio, é destinado para mulheres e meninas, escolha o que oferecer o melhor custo-benefício.

Outra questão é quebrar padrões de comportamento que dizem que meninas só gostam ou podem consumir itens cor-de-rosa e meninos produtos azuis. Uma bola é uma bola, e não vai rolar diferente por ser “de menina” ou “de menino”. O mesmo vale para roupas e calçados, especialmente os de padrão liso. Quem disse que menina não pode usar verde ou laranja, por exemplo?

Fato é que as mulheres são levadas a gastar mais dinheiro ao longo da vida por circunstâncias alheias à sua vontade, como o próprio Pink Tax, e posteriormente são punidas e responsabilizadas por isso.

Receber uma remuneração menor pelo mesmo trabalho executado por um homem, pagar mais caro pelo mesmo produto, e ser cobrada por questões que em sua imensa maioria sequer fazem parte do universo masculino nos leva a pagar um preço altíssimo e é justamente este preço que faz que tenhamos menos dinheiro na carteira para investir em nós mesmas.

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