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Contos infantis e suas muitas versões: Peter Pan

Ilustração de menino adolescente sorrindo e olhando para fada ao seu lado.

Que atire a primeira pedra quem nunca acordou em um dia de trabalho pensando que gostoso seria ficar em casa, cochilando no sofá em frente à TV, ou assistindo desenhos animados sem se preocupar com mais nada.

Se o desejo de não crescer em algum momento bateu por aí, então possivelmente você também tem dentro de si um pouquinho de Peter Pan. Neste artigo, vamos falar sobre a versão original da história e algumas de suas mais importantes adaptações.

Crédito: Divulgação – Disney

Peter Pan e crianças da vida real

A primeira vez que os personagens do universo de Peter Pan apareceram foi no livro The Little White Bird, do escritor escocês James Matthew Barrie, publicado em 1902. A obra era composta por episódios curtos e contos diversos, que iam desde narrativas mais pesadas e sombrias até outras mais leves e fantasiosas.

Existem várias histórias sobre o que teria inspirado Barrie a criar o personagem. As duas mais recorrentes falam sobre a morte de seu irmão em um acidente terrível enquanto patinava no gelo quando o autor tinha apenas 7 anos de idade. A morte repentina do irmão marcou para sempre tanto sua mãe quanto ele, e teria se refletido no personagem Peter Pan como o menino que nunca cresceu.

A segunda referência para a criação dos personagens desse que é um dos contos infantis mais marcantes de todos os tempos seriam os filhos do casal Arthur e Sylvia Llewelyn Davies. J.M. Barrie estaria passeando pelos jardins de Kensington quando avistou os três filhos do casal passeando com a babá. O menino mais novo, inclusive, se chamava Peter.

Barrie, que já era casado na época mas ainda não tinha filhos, teria ficado bem próximo das crianças e do casal, que ainda viria a ter mais dois filhos. Alguns anos mais tarde, quando Arthur e Sylvia vieram a falecer, Barrie se tornou guardião dos cinco meninos e arcou com seus estudos por boa parte da vida.

A primeira versão da história (1902)

Publicado originalmente em 1902 como parte de um livro chamado The Little White Bird (“O pequeno pássaro branco”), os capítulos que apresentavam Peter Pan, Wendy e os irmãos Darling, os Garotos Perdidos e até a cadela Naná eram bem mais sombrios do que nossa memória nos leva a crer quando pensamos na versão da Disney.

Para começar, Peter Pan sequestrava crianças por não ter com quem brincar. Ele mentia para elas, dizendo que na Terra do Nunca seriam crianças para sempre e, quando isso não acontecia, jogava-as no mar para que morressem afogadas.

Nessa primeira versão, o temido Capitão Gancho ainda não existia. Inspirado no Capitão Ahab, do clássico Moby Dick, e uma espécie de aprendiz do temido Barba Negra, o vilão na verdade teria sido uma criança raptada que escapou de Peter e teria voltado para se vingar dele. O autor nunca confirmou, mas uma das teorias dos fãs e pesquisadores do tema diz que os piratas são outras crianças que também teriam escapado do menino voador.

E, por falar em voar, na primeira versão da história Peter Pan voava por conta própria, sem precisar do auxílio do pó mágico da Fada Sininho. J. M. Barrie teria acrescentado a fadinha depois de ouvir que várias crianças se machucaram tentando voar como seu personagem mas, na época, ela não tinha rosto nem forma, era apenas um espírito de luz.

Pois mesmo sendo uma iluminada, Sininho tinha um lado bem sombrio: com inveja e ódio de Wendy por conta de sua relação com Peter Pan, ela engana os Garotos Perdidos dizendo que Pan lhes pediu que atirassem em um pássaro sendo que, na verdade, era a garota que voava na direção deles. Segundo o narrador, por ser uma fada bem pequenina, Sininho não conseguia comportar várias emoções em seu corpinho ao mesmo tempo. Por isso, em alguns momentos ela era totalmente boa e, em outros, completamente má.

Primeiras versões: teatro, cinema mudo e a mágica Disney

Apenas dois anos depois do lançamento do livro uma adaptação para o teatro tornou a história de Peter Pan incrivelmente popular. Em 1904, “Peter Pan, ou o menino que não cresceria” introduziu os personagens de Wendy, Capitão Gancho e Sininho como viemos a conhecer mais tarde, além da mitologia da Terra do Nunca.

Essa peça serviu de base para uma novela que também se transformou em encenação, chamada “Peter e Wendy”, lançada em 1911. Já a primeira versão cinematográfica do conto foi lançada pela Paramount Pictures em 1924, na era do cinema mudo.

A versão da Disney, que até os dias de hoje permanece como a maior referência que muitos de nós temos de quem é Peter Pan, foi lançada em 1953. As negociações tiveram início ainda em 1935, mas foram muitas idas e vindas até vermos o resultado da animação nas telonas quase 20 anos depois.

Desde questões relacionadas ao direito autoral, até a suspensão das produções para que o estúdio pudesse se dedicar à produção de propaganda de guerra depois do bombardeio de Pearl Harbor em 1941, a história mudou de foco várias vezes até ficar definido que o enredo era sobre Peter buscando sua própria sombra.

Robin Williams, mais Disney e uma enxurrada de adaptações

Crédito: Divulgação – Disney

Em 1991 foi a vez do inesquecível ator Robin Williams dar vida ao personagem em Hook: a volta do Capitão Gancho. No longa-metragem dirigido por Steven Spielberg, Peter Pan cresceu, se casou, formou sua própria família e passou a trabalhar em um escritório, esquecendo completamente da Terra do Nunca.

Já em 2002 foi a vez da continuação do longa de animação, chamado Peter Pan 2: De volta à Terra do Nunca. Na história, a filha de Wendy, uma menina chamada Jane, é raptada pelo Capitão Gancho. Essa é uma versão livre, que não foi adaptada da obra original de Barrie.

Depois disso, foram produzidos vários filmes sobre Peter Pan e seu universo, veja só:

Crédito: Divulgação – Netflix

Além disso, Peter Pan também aparece na série Once Upon a Time, que fez muito sucesso entre 2011 e 2018 trazendo versões inusitadas de personagens de contos de fadas.

Peter Pan e Wendy: o live action de 2023

Crédito: Divulgação – Disney

Acabou de chegar ao Disney+ a mais nova adaptação de Peter Pan, em um live action que finalmente atende a algumas das demandas da sociedade atual. Para começar, tanto o ator que interpreta Peter quanto os Garotos Perdidos têm características físicas diversas que fogem ao look pasteurizado do cinema de outrora. A atriz escolhida para interpretar Tigrinha, que é uma personagem indígena da Terra do Nunca, é realmente indígena e faz parte do povo Bigstone Cree Nation, da reserva de Wabasca.

Já Sininho assume de vez o nome Tinker Bell e finalmente deixa de ser retratada como uma ciumenta descontrolada que tem ódio de Wendy por conta de Peter. E não é só isso: Wendy não precisa mais ser mãe de outras crianças por ser a única menina, e Peter não é o único herói do filme. Um prato cheio para quem busca renovar o afeto pelo personagem, sem parar no tempo.

Veja também: 8 livros com representatividade indígena que as crianças precisam conhecer.

Síndrome de Peter Pan

O nome do personagem é usado, também, para descrever uma série de comportamentos imaturos em pessoas que se recusam a se comportar de acordo com a idade. Descrita no livro de 1983 do Dr. Dan Kiley, chamado “The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up” ou “Síndrome de Peter Pan: homens que nunca crescem”, a síndrome fala de características psicológicas, sexuais, sociais e comportamentais daqueles que se recusam a acreditar ou aceitar a idade que têm.

Algumas dessas características incluem uma incapacidade de assumir responsabilidades e compromissos, rebeldia e narcisismo, além de uma troca constante de parceiros, buscando sempre pelos mais jovens. Ainda que possa ser atribuída a mulheres, é frequentemente associada aos homens e parece estar relacionada ao não desenvolvimento, ainda na infância, de habilidades necessárias para a vida adulta. Embora não existam evidências de que se trate de uma doença psicológica real, o termo ainda hoje é amplamente utilizado na psicologia.

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