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Bumba meu boi: conheça a história deste tradicional folguedo

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O bumba meu boi, um dos mais tradicionais folguedos do Nordeste, é celebrado entre meados de dezembro e o dia de Reis, 6 de janeiro, como parte das tradições do ciclo natalino.

Animal introduzido no Brasil pelos colonos portugueses, o boi é personagem de contos, como o do Boi Leição, lendas e romances de cordel, onde têm, por vezes, uma aura sobrenatural. Como boi bento, figura no presépio, tendo sido testemunha do nascimento de Jesus Cristo, como retratado no afresco Natividade, do pintor italiano Giotto di Bodone (1303-1305) e em outras representações da mesma cena.

Alguns estudiosos do folclore, a exemplo de Pereira da Costa, consideram o Estado de Pernambuco o berço da brincadeira, dali se irradiando por todo o Brasil, onde é encenado com variações no texto e nas personagens. Mantém-se, contudo, uma estrutura básica: o boi do fazendeiro é morto por seu vaqueiro fiel — Pai Francisco ou Mateus — para atender ao desejo de Catirina. As tentativas de ressurreição do boi, ao lado das palhaçadas de Mateus, arrancam risos da audiência. Há, ainda, um testamento em que partes do boi morto são simbolicamente deixadas para os moradores do local em que se dá a encenação.

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O bumba meu boi em outras regiões brasileiras

Armação de madeira coberta por tecidos coloridos, o boi traz em seu bojo um homem que diverte a multidão com danças, trejeitos e ameaças que simulam chifradas. A palavra bumba vem de zabumba, instrumento de percussão, mas também representa pancada, batida, e é essa a graça do brinquedo.

Na região amazônica, é conhecido como boi-bumbá e encenado durante as festas juninas; no Maranhão, chama-se bumba meu boi e boi de reis; no Ceará, além de boi de reis e boi surubi, também recebe a interessante denominação de reisado cearense, tendo o Mestre Aldenir do Crato como figura emblemática; em Pernambuco e na Paraíba, é chamado também cavalo-marinho e, no Paraná e em Santa Catarina, boi de mamão.

A encenação prescinde de uma grande área para o desfile dos muitos personagens, que representam seres humanos (engenheiro, capitão, padre, mestre do tear), animais (ema, burrinha, cobra etc.) e criaturas míticas (a caipora, o morto-carregando-o-vivo, o Mané Pequenino – que, ao contrário do nome, tem mais de três metros – e o Jaraguá – espécie de cavalo-fantasma que ameaça a plateia com coices). Tradicionalmente todos os papéis, incluindo os femininos, são representados por homens. No entorno, porém, ficam as pastorinhas, que entoam cantos relativos ao nascimento de Cristo em meio às presepadas de Mateus e Bastião.

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As raízes míticas do folguedo do bumba meu boi

No Nordeste, a divisão simbólica do boi entre os expectadores ou apoiadores do folguedo, evoca o mito grego do deus Dionísio-Zagreus, que, metamorfoseado em touro, foi perseguido, morto e despedaçado pelos titãs. No Egito, o deus solar Osíris desempenha um papel semelhante, ligado aos mistérios de morte e renascimento na natureza.

No folguedo popular do Nordeste, há, ainda, semelhanças com espetáculos de outros países, como os Chevallets da França, Cheval Bayard da Bélgica e Wilde Horse, na Inglaterra, todos eles, no entanto, dando proeminência ao cavalo.

O desejo de Catirina de comer uma parte do boi do fazendeiro (fígado, coração, língua etc.), tema central do auto popular, é antiquíssimo e figura no conto popular egípcio Os Dois Irmãos, de cerca de 3.200 anos. Anup ressuscita seu irmão Bata, que se transforma em touro, repondo-lhe o coração, exatamente como faz Mateus em algumas versões do Bumba meu boi.

É essa tentativa de ressurreição do boi, com a ajuda de personagens reduzidos a caricaturas, como padres, doutores, feiticeiros, além da presença sempre jocosa do sobrenatural, faz do bumba meu boi um espetáculo inesquecível para quem assiste e, principalmente, para os atores e as pastorinhas

Para saber mais

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