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Thiago Queiroz, o Paizinho Vírgula!, fala do novo envolvimento paterno na criação, de tecnologia e leitura

Thiago paizinho vírgula

Quando o assunto são blogs, canais de YouTube e perfis em redes sociais criados por mães, basta pesquisar levemente para descobrir uma infinidade de espaços e discussões de todos os tipos sendo criados diariamente. Mas e os pais, onde estão? Com o fortalecimento do debate sobre a igualdade de gênero nos últimos anos, muitos homens têm se interessado em estreitar mais os vínculos com os filhos e participar igualmente de sua criação, algo não tão comum décadas atrás. O movimento dos pais tem se estruturado devagarinho, mas já tem alguns expoentes, como o carioca Thiago Queiroz.

Paternidade ativa

Criador do site Paizinho Vírgula!, Thiago é originalmente formado em Engenharia Mecânica, mas há alguns anos se dedica a produzir conteúdo em texto, áudio e vídeo sobre parentalidade, Criação com Apego, Disciplina Positiva e muitos outros. Hoje, ele é certificado como líder pela organização Attachment Parenting International,e criador do primeiro grupo de apoio oficial no Brasil, a APIRio. Além disso, é também certificado como educador parental para a disciplina positiva, pela Positive Discipline Association. Só no Facebook tem mais de 79 mil seguidores e no YouTube mais de 33 mil assinantes. Em papo com a equipe do Quindim, ele conversou sobre o seu percurso, sua visão sobre o novo papel do pai, tecnologia e leitura. Confira:

Quindim: Quando você começou a trabalhar e refletir sobre a infância?

Thiago Queiroz: Comecei esse processo justamente com a chegada do meu filho mais velho, Dante, que tem 5 anos hoje. Já durante a gestação comecei a pensar um pouco sobre o assunto, mas estava mais focado em entender como ia apoiar minha esposa no parto dela. Tive que quebrar muitos preconceitos e paradigmas para viver isso. Mas, quando o Dante veio pela primeira vez para os meus braços, veio a sensação de que eu queria que minha relação com ele fosse totalmente diferente de tudo o que imaginava antes, em termos de hierarquia, de que o pai tem que mandar e ser obedecido, ter a última palavra. Ainda durante a gestação fiz um monte de coisas diferentes para garantir que o parto fosse uma experiência amorosa e respeitosa tanto para o Dante quanto para a Anne, e queria que isso continuasse. Dali em diante nunca mais li outro livro que não fosse sobre infância, sobre relações entre pais e filhos, vínculo, afeto e tudo mais. Aí surgiu a criação de um grupo de Criação com Apego no Facebook, comecei a ler, a entender como isso se adequava para mim, a compartilhar isso no grupo e fazer encontros com as outras pessoas. Depois criei o blog e a vontade de me especializar nisso só aumentou, então busquei uma certificação pela API (Attachment Parenting International), para que eu pudesse ser um líder certificado e pudesse criar um grupo de apoio de API no Brasil, e a certificação de educador parental pela Disciplina Positiva. Desde então estou aí.

Q.: Qual é o foco do seu trabalho hoje?

T.Q.: É promover o máximo possível de informações que eu acredito serem importantes para pais e mães – e não só para eles, mas principalmente. Com o conteúdo que crio, quero empoderar as famílias com relação ao que eles querem oferecer na criação e na relação com seus filhos. Quero que minha informação seja acessível em termos de entendimento e gratuita. Tento atuar de várias formas para atingir vários tipos de públicos, então o site tem textos, mais sérios e aprofundados para quem gosta de textos; vídeos, que vão levar informações para pessoas que buscam algo mais despojado e leve; e os podcasts, que alcançam gente que às vezes até procura se divertir um pouco, que podem ouvir o conteúdo para passar o dia, na hora do almoço, no ônibus, e ter acesso a uma carga grande de reflexão e desconstrução que levamos.

Q.: Você é um dos poucos especialistas e produtores de conteúdo na internet que falam desse lugar de pai. Como enxerga o papel do pai hoje?

T.Q.: O papel de pai, para mim, é de quem cuida, de quem cria junto. Acho que já passou muito do tempo em que se achava que o pai era o cara provedor somente. Apesar de perceber que a grande realidade dos pais pelo Brasil é completamente diferente, acredito que estamos criando sim um burburinho e está crescendo o número de pais que estão participando da vida escolar dos filhos, que sabem as roupas que eles filhos precisam, o que tem na lancheira das crianças etc. Acho que o pai tem que criar, participar da educação e da disciplina do filho, saber tudo sobre a vida dele, se importar e querer criar uma relação afetiva com seu filho para além do filho, para algo que se estende socialmente, e estar disposto a fazer muitas desconstruções no processo.

Q.: No seu trabalho, você nota que mais homens estão assumindo o papel da paternidade de um jeito mais consciente? Qual é a importância de falar sobre isso para esse público?

T.Q.: Se você olhar para todo o Brasil, ainda é um movimento pequeno, mas tem sido cada vez maior a quantidade de homens que se envolvem, tiram dúvidas, trocam sobre paternidade. Tem um grupo que eu criei no Telegram para pais, para falar sobre paternidade, que mostra muito isso. Temos quase 300 pessoas lá e eles não ficam falando sobre futebol, estão única e exclusivamente para falar sobre paternidade. Compartilham promoção de fralda, tiram dúvida sobre doença, pedem indicação de pediatra, coisas que anos atrás eu nunca tinha visto. Vejo que é um movimento muito legal e que é muito importante falar sobre isso para provocar essa identificação, esse pertencimento. Lembro há cinco anos, quando tive meu primeiro filho, como era ruim não ter isso, não ter um lugar para você.

Q.: Você também aborda bastante o tema da Criação com Apego e da Disciplina Positiva. Como essas práticas podem impactar positivamente no desenvolvimento da criança?

T.Q.: Seu principal foco é gerar impacto positivo na infância. A Criação com Apego é focada no vínculo que se cria entre o bebê, a criança e os pais ou cuidadores. O pequeno que desenvolve um vínculo seguro terá uma noção de segurança do mundo maior, vai se sentir mais tranquilo para explorar, vai enxergar a referência de vínculo como um porto seguro. Inúmeras pesquisas no campo da Neurociência e da Psicologia mostram os benefícios da prática, como o cérebro da criança se forma quando há esse afeto e contato físico com os pais, permitindo que ela se desenvolva melhor. Por exemplo, a criança que é deixada chorando para pegar no sono gasta muita energia, tem um processamento mental imenso, vive uma situação de estresse, se sente abandonada e produz muito cortisol [hormônio do estresse], e essa energia poderia ser usada para criar novas sinapses no cérebro dela. Só aí você já vê uma clara diferença entre a abordagem de deixar seu filho dormir com você, ou atender o choro do seu filho à noite, e deixá-lo chorando sozinho. Com relação à Disciplina Positiva, o foco são crianças mais velhas, e você sente o impacto. Vejo pelo meu filho Dante, que tem uma consciência absurda sobre os próprios sentimentos. O próprio Gael, de 3 anos, também tem. Eles estão muito à frente de como eu era quando tinha 5 anos. Sabem identificar quando estão com raiva, quando estão tristes e se sentem seguros na relação que têm comigo para falar disso. Dizem, por exemplo: “Papai, não gostei que você brigou comigo ontem, porque quando você briga comigo eu fico triste”, algo que a nossa geração nunca falou para os pais. Então as crianças com essa criação empática, respeitosa e focada no autoconhecimento já têm benefícios na primeira infância, benefícios que serão levados para toda a vida adulta.

Q.: O que pensa sobre o uso de tecnologia, como tablets e smartphones, pelas crianças?

T.Q.: Existem inúmeras maneiras de olhar para essa questão, ela é multifatorial e multidisciplinar. Nós vivemos em uma sociedade que sobrecarrega demais as mães. É preciso fazer muitas coisas ao mesmo tempo, então entendo completamente que às vezes é uma questão de sanidade mental você colocar o seu filho para ver uma TV, um desenho, para ir ao banheiro, para não surtar mesmo. Sempre falo isso porque não dá para bater o martelo de que criança até dois anos não pode ter nenhum acesso a telas. Com o Dante, conseguimos fazer isso, mas com dois filhos já é difícil, quando o mais velho tem uma rotina de ver um pouco de desenho depois do almoço, por exemplo. É muito complicado, e a gente precisa ser empático com os pais e as mães que recorrem a esse recurso para ter um mínimo de sanidade mental. Afinal, também não vale nada você carregar uma bandeira e estar sempre esgotado, no limite, perdendo a razão porque não descansa e não tem um momento para você. Em casa, o que fazemos é moderar tudo. Eles não têm um celular para eles e não operam celulares ou tablets sozinhos, porque nós fazemos essa mediação. Nós temos que ver o que eles estão consumindo. Temos que entender, por exemplo, que o YouTube não é totalmente seguro para a criança: ela facilmente pode chegar a um conteúdo impróprio ou a uma publicidade infantil muito nociva, que ainda não é regulada. É um assunto muito delicado. Mas acredito que, se formos usar a tecnologia com as crianças, temos que estar perto e vendo o que estão consumindo.

Q.: Para você, qual é a importância de inserir a leitura na vida das crianças? Tem alguma rotina especial de leitura com seus filhos?

T.Q.: A leitura é fundamental na vida das crianças. Acho que temos um papel muito importante de fazer com que a leitura seja prazerosa, e não uma coisa chata. Hoje temos uma facilidade de acessar um monte de livros diferentes, temos livrarias com seções lindas e dedicadas completamente para crianças, podemos ler, por exemplo, contos africanos escritos para crianças. É maravilhoso ter a possibilidade de trazer tanta informação bacana através dos livros e mostrar como os livros podem nos ensinar. Em casa sempre temos um momento do dia em que lemos – não é antes de dormir, mas normalmente à tarde. Cada um escolhe um livro e eu leio para eles. E quando tem algum tema que queremos introduzir na vida das crianças recorremos aos livros. Isso funcionou bem na hora do desfralde e quando queríamos trazer o assunto das diferenças.

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