Os pequenos crescem e quando menos esperamos, nos surpreendem com perguntas difíceis, que não sabemos como responder. Bebês e crianças pequenas exploram o mundo como cientistas, interessados em entender o funcionamento por trás das coisas ou dos acontecimentos. Não demora muito para que se detenham sobre temas difíceis, como morte, violência e separação.
Muitos pais preferem não falar sobre esses temas difíceis com seus filhos, pois acreditam que as crianças devem conhecer principalmente assuntos ligados à fantasia, de forma leve e feliz. Entretanto, a maioria das crianças, desde cedo, deparam-se com situações que fogem do conceito da “felicidade”.
Problemas familiares como divórcio, luto, mudanças repentinas de rotina, questões como ciúmes, a chegada de um novo irmão e notícias dolorosas de todo o mundo podem causar sentimentos dos mais diversos nos pequenos, e eles lidam com essas realidades de acordo com as ferramentas internas que possuem.
A psicologia infantil aponta que esses assuntos, quando abordados por meio de uma comunicação horizontal entre adulto e criança, pode ajudá-la a se sentir mais segura e protegida.
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Responda o que foi perguntado
Muitas vezes, diante de um questionamento simples da criança, os pais já se adiantam a dar explicações muito complexas. Uma forma fácil de encarar a situação é responder justamente o que o pequeno indagou. Por exemplo, se uma criança pequena quer saber como os bebês são feitos, os pais podem explicar apenas que eles surgem de sementinhas do corpo do papai e da mamãe, sem precisar entrar no tema do sexo. Caso a criança queira saber exatamente como essas sementes se encontram, é possível ir desmembrando o assunto.
Respeite a idade da criança
Crianças de faixas etárias diferentes têm níveis de compreensão diferentes. Mais ou menos depois dos cinco anos, os pais podem detalhar mais os assuntos e entrar em elaborações mais complexas. Antes disso, é bom ser sucinto e direto na resposta.
Seja verdadeiro
Mentir para a criança pode atrapalhar o vínculo e a criação da confiança entre vocês. Afinal, como estimulá-la a falar a verdade para você se você mesmo mentiu para ela? Ela pode se decepcionar se, em uma primeira conversa, você disser que é a cegonha que traz os bebês ou se falar que a vovó que morreu foi viajar. É possível ser sincero sem impressionar o pequeno, conversando com delicadeza e afeto.
Busque auxílio na literatura
A literatura infantil de qualidade é uma excelente ferramenta para abordar temas difíceis. Ao abrir um leque para conversas e reflexões, os livros infantis apresentam, por meio da vivência das histórias, diferentes culturas e realidades de mundos. Isso pode estimular a criança a ter um olhar mais empático e respeitoso com o outro, além de criar associações importantes para se proteger e lidar com assuntos inerentes à vida.
Veja abaixo alguns títulos enviados pelo Clube Quindim que podem ajudar a abordar temas variados!
Temas difíceis: Para falar sobre divórcio
1. Greg, o menino que morava em um trem
Nesta obra, conhecemos Greg, um menino que mora em um trem com seu pai e sua mãe. A vida dessa família atravessa pontes, morros, túneis escuros, seja em dias ensolarados ou dias de temporais. E a vida de todos nós não é assim, cheia de encantos e desencantos, encontros e desencontros, de emoções e surpresas?
Um dia, os pais de Greg decidem morar em vagões separados e o menino passa a enfrentar uma nova realidade. Através da metáfora do trem, este livro fala sobre o divórcio, um tema que pode ser difícil para muitas famílias abordarem com as crianças.
Direto do Instagram: Livros para acolher sentimentos difíceis
Temas difíceis: Para falar sobre diversidade
2. Elmer, o elefante xadrez
Esta obra de David Mckee fala sobre a sensação de ser diferente e a busca por pertencimento. E o modo como aborda esse tema permite leituras diversas sobre o que é ser diferente, podendo falar tanto sobre uma diferença clara, como uma deficiência, quanto sobre a diferença como uma percepção de si mesmo na busca pelo pertencimento. Uma busca que pode nos levar por muitos caminhos, da imitação ao outro para se sentir parte daquele grupo à simples (e difícil) compreensão e estima de si, com as características e potencialidades que o fazem único.
Temas difíceis: Para falar sobre medo da morte de alguém
3. Um fio de esperança
O livro Um fio de esperança fala sobre um tema bastante sensível: a iminência da morte de alguém que amamos. Abordar temas densos na literatura infantil causa em alguns adultos um pouco de medo, de receio em expor a criança a alguma dor. Sabemos, porém, se acessarmos as nossas memórias da infância, que ela não está tão protegida assim, e que vivenciamos desde os primeiros anos sentimentos dolorosos como o medo e a angústia.
A literatura permite vivenciar esses sentimentos por meio das histórias, oferecendo ferramentas para que possamos elaborar como lidar melhor com esses sentimentos em nosso cotidiano.
Temas difíceis: Para falar sobre a Perda de um dos pais
4. Menina amarrotada
Menina amarrotada fala sobre um tema difícil: a perda de um ente querido. Seja ela por morte, por separação dos pais em que um deles deixa de estar presente. Fala também sobre mudança externa e interna, sobre tristeza, saudade, raiva. Sobre dias cinzas. Fingir que esses sentimentos não existem não faz com que eles de fato deixem de existir. A literatura é um modo de mergulhar nessas questões sem necessariamente apontar o dedo para elas. E ajudar o leitor a identificar e lidar com os amarrotados da vida.
Temas difíceis: Para falar sobre a perda de um animal de estimação
5. Pedro e lua
Neste livro escrito e ilustrado por Odilon Moraes, o leitor encontrará uma delicada história de amizade e o nascer de fortes sentimentos, como a saudade e a dor do abandono perante a morte. Cheias de contrastes e momentos efêmeros, as ilustrações são rascunhos do artista, desenhados em preto e branco. Pedro e Lua é uma obra sensível para conversar sobre as perdas com que adultos e crianças precisam lidar ao longo da vida.
Temas difíceis: Para falar sobre Relações desiguais de poder entre homem e mulher
6. Barbazul
São muitas as referências desta história aos contos de fadas: paixão, mistério, castelo, o bem contra o mal. Mas a principal é o elemento mágico. O elemento revelador. Na história de Barbazul, a chave é esse elemento. Abre portas e revela o outro lado do que está escondido. Uma chave que não se cala e conta tudo.
Apesar de essa história ter sido publicada pela primeira vez em 1697, no livro Histórias da Mamãe Ganso, a temática sobre o machismo, sobre o poder e o domínio que o homem exerce sobre a mulher, como se esta fosse sua posse, continua sendo muito atual. De fato, o Brasil está entre os países com maior índice de homicídios femininos: ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações, segundo OMS/ONU Mulheres/SPM, 2015.
Temas difíceis: Para falar sobre Desigualdade social e crianças que vivem nas ruas
7. Cena de rua
Este livro rompe com uma visão de mundo única. A situação apresentada na narrativa nos faz repensar os limites entre o certo e o errado, sobre justo e injusto. E não é assim a vida? O tal “homem de bem” existe de fato?
Na obra Cena de rua, uma criança de rua tenta vender itens em um semáforo. É ignorada e sofre a violência comum dessa situação. Ao fim da história, a criança acaba por roubar uma família, e ao abrir o embrulho descobre que roubara de uma família que havia comprado o que ela vendera.
Dessa situação cíclica, a autora desperta questionamentos sobre o cotidiano e violência urbana, além de dilemas éticos: você acredita que esta criança é má? A literatura é assim: questiona nossas verdades, nos faz pensar e amplia nosso universo.
Temas difíceis: Para falar sobre refugiados
8. Filas de sonhos
Quando um país entra em guerra, tudo falha: luz e água, sono e sonhos, pão e esperança. O medo se espalha até afetar tudo e todos… e sempre chega o dia em que se percebe que, para salvar a vida, é preciso arriscá-la. Filas de sonhos é um conto sobre a crise dos refugiados através dos olhos de um menino fechado num campo de acolhimento.
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Temas difíceis: Para falar sobre guerras
9. A guerra
Nos noticiários e na internet, podemos ver com frequência os relatos da destruição de guerras que ocorrem atualmente. E é essa violência, a desigualdade e a falta de recursos humanos que provocam a migração da população que se refugia em outros países.
A guerra é uma obra sobre um tema difícil e sua leitura gera muitas reflexões sobre essa situação que pode não ser a realidade de muitos de nós, mas que ainda hoje afeta a vida de muitas famílias.
Temas difíceis: Para falar sobre RACISMO
10. Quando me descobri negra
“Tenho 30 anos, mas sou negra há 10. Antes, era morena.” É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais, inventadas ou ouvidas no círculo de mulheres negras que organizou.
Com uma escrita ágil e visceral, denuncia com lucidez – e sem as armadilhas do discurso do ódio – nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos dolorosos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas.
Temas difíceis: Para falar sobre relacionamentos abusivos
11. A moça tecelã
A moça tecelã é uma das mais importantes obras da literatura infantojuvenil brasileira. Apresenta uma mulher que torna real tudo o que tece: o amanhecer, as cores da natureza, um lar. Um dia, sente-se só e tece um homem com chapéu emplumado. Ele lhe pede para tecer uma casa, depois um palácio, colocando o tear mágico aos seus caprichos. Por fim, a moça se vê presa naquela situação. Mas a personagem pode tecer e destecer o seu destino. Um lindo livro que as irmãs Dumont majestosamente bordaram com os belos desenhos de Demóstenes Vargas.
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Temas difíceis: Para falar sobre depressão
12. Um passarinho me contou
O livro Um passarinho me contou retrata a conversa de duas senhoras que já estão desistindo da vida e se preparando para encontrar com a “morte”. Pode parecer, em primeiro momento, uma história triste. Mas a cada virada de página uma nova surpresa vai acontecendo. A vida vai exigindo uma nova tarefa, vai comemorando aniversários, vai batendo asas na janela, vai cantando e as senhoras vão entendendo que suas existências têm propósito, têm sentido e estão ligadas a tantas pessoas, a tantos acontecimentos que não têm mais tempo para visitar a morte.