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Superproteção familiar: por que driblar o excesso de zelo e incentivar a autonomia

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Não importa quantos anos nossos filhos e nossas filhas tenham: basta olhar para os seus olhinhos para encontrar aquele bebê de novo, frágil e dependente. O amor que nossas crianças despertam dentro de nós muitas vezes evocam muitos medos, que vão desde o receio de vê-los sofrerem até o pavor de que se machuquem gravemente. Diante de tantas inseguranças, combinadas com os desafios de criar filhos em um mundo violento e perigoso, a dificuldade é afastar as teias da superproteção.

Elas se manifestam no dia a dia. Quando a mãe proíbe a criança de se aventurar com a bicicleta na rua, de subir em um brinquedo alto demais no parquinho, de viajar com um amigo ou até de ficar horas aos cuidados de outro membro da família. Se, por lado, atitudes como essa demonstram cuidado e preocupação, por outro, podem atrapalhar o desenvolvimento da criança, especialmente no que diz respeito à expansão de sua autonomia, independência e autoconfiança.

E a ciência atesta os males que a superproteção pode gerar. Um estudo desenvolvido na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e publicado na revista “Developmental Psychology” apontou que pais controladores – os chamados “pais helicópteros” em inglês, sempre em cima dos filhos – podem impactar negativamente na habilidade das crianças de administrar seus sentimentos e seu comportamento. Para esses filhos, seria mais difícil lidar com os desafios que se apresentam à medida que vão crescendo, especialmente no ambiente escolar. Entre os efeitos, estariam a dificuldade de fazer amigos e de ter uma boa performance escolar. Para esse estudo, pesquisadores acompanharam 422 crianças ao longo de oito anos.

Impacto na saúde

Mesmo o desenvolvimento da saúde dos pequenos demanda liberdade para se expandir. Afinal, a criança nasce com a imunidade pouco desenvolvida e deve ser bem-cuidada nos primeiros meses de vida. É por isso que a recomendação médica é para que se esterilizem mamadeiras e outros utensílios, por exemplo. No entanto, passado esse período, é importante que as crianças entrem em contato livremente com o ambiente externo: o solo, as plantas, os animais e mesmo o chão de casa, para que aprendam sobre o mundo à sua volta e estejam expostos a agentes capazes de fortalecer sua saúde e imunidade. Caso contrário, o pequeno poderá apresentar uma fragilidade muito mais acentuada diante de doenças.

Outro aspecto que pode ser impactado pela superproteção familiar é o desenvolvimento motor. Quando os pais evitam a queda das crianças, ou evitam a liberdade de que elas precisam para explorar desafios, passam a mensagem de que elas não conseguirão superar tais desafios ou se levantar sozinhas. A professora de psicologia Ellen Sandseter, da Universidade Queen Maud, na Noruega, aponta, inclusive, que é fundamental que elas explorem os desafios oferecidos nos parquinhos. Brinquedos que proporcionam experiências com altura e velocidade podem estimular os pequenos a fortalecer sua autoconfiança e a superar medos. Isso contraria um movimento recente dos parquinhos, segundo a especialista: as pessoas têm retirado brinquedos considerados perigosos. Assim, as crianças acabam achando os itens entediantes e deixam de vivenciar o que eles podem oferecer.

Sandseter afirma, ainda, que as pesquisas mostram que as crianças exploram os desafios desses brinquedos pouco a pouco, sem se expor a riscos em demasia logo de cara. Por fim, os machucados que podem acontecer dificilmente são graves ou geram impactos nos medos que elas terão: uma criança que se machuca em um queda até os nove anos tem menos chance que um adolescente de ter medo de altura.

Superproteção e a criança boazinha

Como falamos por aqui recentemente, o mito da criança boazinha pode gerar uma série de expectativas sobre o comportamento dos nossos filhos e filhas. Trata-se de um movimento que posiciona a criança dentro de uma caixa, que espera que ela se comporte como um miniadulto, silenciosa, compreensiva e capaz de seguir ordens sem questionar. Pode, assim, engessar a infância e atrapalhar a criança no seu processo de construção de sua identidade.

Da mesma maneira, podemos olhar a superproteção como engessadora da infância. Afinal, a outra faceta da proteção em excesso é o controle, a tentativa dos pais de que seus filhos se comportem sempre da forma como eles esperam: seguros, sem que se coloquem sob riscos e experimentações. No entanto, experimentar faz parte da experiência integral da vida. É assim que desbravamos o mundo, que entramos em contato com os outros e conosco, conhecendo aquilo que nos dói e nos dá prazer, bem como a nossa essência mais profunda.

Permitir que os filhos entrem nessa jornada, por mais dolorido que seja, é fundamental. A frustração ensina e é importante para nos mostrar limites nossos e das pessoas ao nosso redor. Mas como equilibrar esse processo com segurança? Estabelecer limites na vida das crianças é como uma dança, uma dança permeada de amor e diálogo. Conversar com os pequenos sobre os perigos e desafios que a vida oferece é urgente, assim como sobre as formas que eles devem buscar para se proteger. Estar disponível para acolhê-los nas eventuais quedas também é importante, assim como estimulá-los a confiar em si mesmos, a acreditar que são capazes de tentar de novo. É como o pássaro que ensina o filho a voar, e depois observa, em solo firme, os mais lindos voos.

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