O Clube de Leitura Quindim fala sobre o skate para meninas e a importância da representatividade dentro dessa área tão predominantemente masculina.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram históricos para o skate. Pela primeira vez, a modalidade esportiva fez parte da competição e encheu os brasileiros de orgulho. Rayssa Leal brilhou e garantiu a medalha de prata ao Brasil. Apenas com 13 anos, a fadinha, como é conhecida por ter viralizado fazendo manobras incríveis vestida de fada aos sete anos, fez história ao lado de outros grandes nomes do esporte feminino, como Letícia Bufoni e Pâmela Rosa.
A medalha de Rayssa reverberou de uma maneira linda e chamou atenção por um fato importante: por que na modalidade feminina há tantas jovens? Talvez por que o esporte não é naturalizado entre as mulheres e por elas serem pouco incentivadas? Não há dados sobre essa percepção, mas o fato é que o esporte sempre foi dominado e naturalizado entre os homens. Veja mais sobre skate para meninas a seguir!
Veja também: Meninos e meninas ao redor do mundo. Como diferentes culturas os enxergam
Mulheres no skate
Mesmo com dificuldades, falta de espaço e de reconhecimento, as mulheres sempre fizeram parte da história do esporte. A norte-americana Patti McGee foi a pioneira na modalidade. Aos 19 anos, na década de 60, ela venceu o primeiro campeonato feminino de skate. Nos anos 70, a americana Peggy Oki trouxe ainda mais representatividade: foi a única mulher a integrar a equipe dos Z-Boys, um influente grupo do esporte da época.
E as brasileiras também escreveram seus nomes na história. Leni Cobra conquistou o primeiro título de street style no Brasil, em 1987, depois de arrasar e revolucionar nas manobras. Esses são apenas alguns nomes que deram voz ao skate feminino e, certamente, inspiraram outras mulheres a praticarem o esporte.
Veja também: Existem livros para meninas e meninos? Entenda a importância da literatura sem distinção de gênero
Skate para meninas: lugar de menina é onde ela quiser
Se a nossa fadinha conhecesse Olívia da Cunha Pedreira D’Assumpção Corrêa, de apenas 1 ano e 7 meses, certamente ficaria cheia de orgulho. A pequena Oli já ama skate. Seu pai Lucas D’Assumpção, jornalista esportivo, conta que ela assistia skate de forma aleatória na internet e começou a demostrar interesse. “Cubro surf e até queria colocar minha filha nesse esporte, mas ela via skate e ficava vidrada. Teve uma ocasião em que eu e minha esposa, a fotografa Julianna Pereira, estávamos assistindo a uma competição de skate e Olívia ficou desesperada, ficava batendo palmas”, lembra.
Lucas conta que ela aprendeu a falar “skate” depois de “mamãe” e “papai”. O amor e a vibração pela modalidade foram muito perceptíveis. “Eu tinha um skate mais antigo que montei para ela justamente para ver se era isso mesmo que Oli queria. Voltei a praticar para ela me ver e ter um espelho. Minha filha desenvolveu uma paixão pela modalidade”, reforça Lucas.
Mas não é só de alegria que se vive o esporte. Infelizmente, ainda há um estereótipo de que meninas não andam de skate. “Como tenho uma filha menina, estou vendo isso de perto. Julianna sempre gostou de esporte de ação, surfou quando era mais nova, gostava de skate também. Para nós, a Olívia gostar do esporte é comum. É muito natural ver ela fazendo coisas que a sociedade coloca como ‘não indicado’. Incentivamos muito nossa filha e sempre vamos incentivá-la a fazer o que quiser”, completa o jornalista.
Lucas reforça, ainda, que se a sociedade ou alguém disser que ela não pode fazer determinado esporte, vai encontrar uma barreira grande: “porque nós, como pais, vamos sempre incentivá-la sem nenhuma vergonha”.
O jornalista acredita que sua filha sofrerá algum tipo de preconceito por ser menina e gostar desse esporte. “Ainda vai existir, infelizmente. Mas também acredito que vai melhorar muito, devido também à grande ascensão da Rayssa, uma menina que andava pequeninha de skate vestida de fada. Mas o preconceito vai existir sempre. Eu e Julianna vamos ter que conversar sempre, desenvolver esse lado dela mais político nesse sentido”, comenta Lucas.
Lucas termina reforçando que ele é um homem negro e sua esposa, uma mulher branca. “Criamos nossa filha na cultura negra, sempre incentivamos ela a conhecer suas raízes. Então, essa é uma batalha aqui para nós também: uma menina de pele escura andando de skate. A gente sempre vai lutar para ela ser uma mulher livre para fazer suas escolhas”, finaliza. Lugar de menina é onde ela quiser, e Olívia já está sabendo disso desde muito pequena!
APROVEITE ESTE MOMENTO PARA INCENTIVAR A LEITURA!