É comum os pais incentivarem os filhos a buscarem em seus armários cheios de roupas e brinquedos aqueles que não desejam mais para doarem a “crianças pobres”. Muitos fazem disso um argumento de troca: só se ganha o novo presente se a criança se desfizer de um antigo. Mas incentivar a criança a se desfazer do que não quer mais e dar o que já seria descartado… estaria aí o incentivo para o seu filho se tornar uma criança solidária?

Solidariedade pressupõe relação horizontal. Você não descarta o que não quer mais e se considera melhor por isso. É uma ação louvável, claro, não produzir lixo. Mais louvável ainda é ter o cuidado de entregar, com carinho, o que você não deseja e pode ser bem aproveitado por outra pessoa, ainda mais vivendo em um país de grandes diferenças sociais como o nosso (entregar com carinho pressupõe, por exemplo, ter o trabalho de consertar e lavar a roupa antes de doá-la – sim, é comum pessoas entregarem roupas sujas para doação).

Mas se o desejo é incentivar genuinamente que o pequeno se torne uma criança solidária, é preciso construir esse olhar horizontal para o próximo, é preciso sair da zona de conforto e se esforçar para vivenciar uma situação diferente daquela de privilégio em que muitos estamos inseridos. É preciso se colocar no lugar do outro.

O que fazer para incentivar a solidariedade nos pequenos

Certamente, uma excelente “ferramenta” para ajudar a criar uma criança solidária é a literatura. Ela nos permite vivenciar outros mundos, outras realidades, para assim desenvolvermos a empatia e enxergarmos o outro. Além disso, outra estratégia é o trabalho voluntário. Pois este pode nos tirar da zona de conforto ao nos colocar lado a lado com pessoas que vivem realidades muito diferentes da nossa, muitas vezes sem acesso aos privilégios da classe média. Pessoas em situações delicadas, acostumadas a serem vistas sob a capa do preconceito, e que aprenderam a sobreviver vestindo essa capa, nas mais variadas condições. Pois muitas vezes, mais importante que doar bens, é dedicar tempo, atenção, disposição, abertura.

Voluntariado demanda esforço. Ir uma vez ao ano a um orfanato pode sensibilizar não só adultos, mas também crianças que não conhecem essa realidade. É louvável, claro, mas é fácil virar as costas àquela dor um mês depois. Difícil é vivenciar aquela situação sempre, a cada visita mensal ou semanal, por exemplo, é se esforçar cotidianamente para enxergar o outro com o olhar da primeira vez.

O mundo é duro e nos força a perder a sensibilidade ao longo do tempo. Os olhos das crianças pequeninas, em geral, ainda não estão tão acostumados e, por isso, tendem a ver melhor que nós, adultos. Nesse sentido, fica o convite para nos colocarmos lado a lado com as crianças pequenas que estão ao nosso redor e parar para ver, com os olhos da primeira vez, o outro.

Dicas de leitura para incentivar o pequeno a ser uma criança solidária

O Clube Quindim separou alguns livros já enviados para os pequenos leitores e que podem incentivar a solidariedade nas crianças. Confira a lista:

Clássicos da literatura infantil brasileira: capa livro Cena de rua da Angela-Lago
Autora: Angela Lago
Editora: Rhj

Cena de rua

Cena de rua ilustra a vida de um menino vendedor de frutas em semáforos que, vítima da indiferença, acaba cometendo um delito. Imagens e cores fortes, plenas de movimentos, e, além disso, ângulos surpreendentes se combinam nesta reportagem visual. Explorando a linguagem expressionista, Angela Lago consegue falar à emoção sem palavras.

Livros infantis sobre amizade: Guilherme Augusto Araújo Fernandes Mem Fox Julie Vivas
Escrito: Men Fox
Ilustradora: Julie Vivas
Editora: Brinque-Book

Guilherme Augusto Araújo Fernandes

Este livro conta a história de Guilherme Augusto Araújo Fernandes, vizinho de um asilo de idosos, todos seus amigos. Entre eles, Guilherme tinha uma amiga em especial, Dona Antônia. Então, numa dessas visitas, Guilherme descobre que ela perdeu a memória e, a partir deste dia, Guilherme, com a ajuda dos outros moradores do asilo, vai fazer uma aventura para descobrir o que é a memória e onde foi parar as lembranças de Dona Antônia.

protagonistas femininas: Malala a menina que queria ir para a escola adriana carranca
Escritora: Adriana Carranca
Ilustradora: Bruna Assis Brasil
Editora: Companhia das Letrinhas

Malala, a menina que queria ir para a escola

“Minha força não está na espada. Está na caneta.” A menina Malala, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, nos mostra a importância, principalmente, da Educação para o desenvolvimento de uma sociedade sem intolerâncias e que valoriza o outro. A voz dela ecoou pelo no vale de Swat, no Paquistão, atravessando fronteiras e relatando o sofrimento de uma população que foi reprimida por questões culturais e religiosas. A história de Malala representa a força da juventude na busca por um mundo melhor.

livros para falar sobre diversidade:meninos do mangue
Autor: Roger Mello
Editora: Companhia das Letrinhas

Meninos do mangue

A maré divide o dia em 4: duas marés altas e duas baixas. Neste cenário e inspirado na crônica “O ciclo do caranguejo”, do escritor recifense Josué de Castro, o livro Meninos do Mangue conta a história das pessoas que sobrevivem principalmente da riqueza do mangue, paraíso dos caranguejos. Apesar de a história mostrar os problemas sociais da comunidade como o trabalho infantil e escravo e o lixo jogado no meio ambiente, o autor busca, por meio da escrita e das imagens, evidenciar o lado humano das pessoas, a espontaneidade e felicidade das crianças que se divertem pegando caranguejos.

Frases do pequeno príncipe: um passarinho me contou jorge miguel marinho
Escritor: Jorge Miguel Marinho
Ilustrador: Flávio Pessoa
Editora: Edições de Janeiro

Um passarinho me contou

O livro conta a conversa de duas senhoras que já estão desistindo da vida e se preparando para, então, encontrar com a “morte”. Pode parecer, em primeiro momento, uma história triste. Mas a cada virada de página uma nova surpresa vai acontecendo. Afinal, a vida vai exigindo uma nova tarefa, vai comemorando aniversários, vai batendo asas na janela, vai cantando e as senhoras vão entendendo que suas existências têm propósito, têm sentido e estão ligadas a tantas pessoas, a tantos acontecimentos que não têm mais tempo para visitar a morte.

A caminho de casa (escritor Silvia Corrêa, ilustração Cárcamo, editora Edições de Janeiro)
Escritora: Silvia Corrêa
Ilustrador: Cárcamo
Editora: Edições de Janeiro

A caminho de casa

Esta obra traz um tema denso: o abandono e a sobrevivência na rua. Ela não poupa o leitor, mas o sensibiliza para essa cena que vemos e revemos diariamente nas grandes cidades. E… de tanto vermos, deixamos de enxergar. Aliás, são histórias como essa, que nos fazem conhecer a vivência do próximo, que conseguem nos tocar e tornar a criança solidária com a vivência do outro.

Donana e Titonho
Escritora: Ninfa Parreiras
Ilustrador: André Neves
Editora: Paulinas

Donana e Titonho

Este livro fala sobre uma profissão muito arriscada e difícil, que é a dos catadores de lixo. Entretanto, em diversos momentos, a narrativa nos parece alegre, mostra uma vida simples e leve, em especial quando conhecemos os filhos do casal catador. Eles inventam incontáveis brincadeiras com o que os pais acham por aí e, além disso, deixam a imaginação criar vidas fantásticas, ressignificando o que seria considerado lixo com a potência do olhar infantil. E como temos de aprender com esse olhar e, principalmente, sua capacidade de mergulhar em si, encontrando o que precisa para brincar livremente! Indicada ao prêmio Jabuti de 2019, essa obra vai tocar os leitores não só pela escrita de Ninfa Parreiras, como também pelas ilustrações de André Neves.

um amigo para sempre
Escritora: Marina Colasanti
Ilustrador: Guazzelli
Editora: FTD

Um amigo para sempre

Neste livro, acompanhamos as tardes de sol de um preso político, que enxerga poesia em seus arredores e assim conquista a confiança de um passarinho. O personagem se relaciona com a natureza sem uma hierarquia. Ele vê o pássaro como um amigo, ele o quer por perto, respeita seus limites e, portanto, ganha sua confiança aos poucos. E acima de tudo respeita que ele tenha seguido o seu destino. Essa relação tão bonita tem muito a nos ensinar e ao mesmo tempo traz reflexões a respeito da forma como tratamos outros animais. Afinal, ver os animais sem pensarmos em uma superioridade humana pode ser muito importante para começarmos a tratar o planeta com mais carinho.

De flor em flor (autores JonArno Lawson e Sydney Smith, editora Companhia das Letrinhas)
Autores: JonArno Lawson e Sydney Smith
Editora: Companhia das Letrinhas

De flor em flor

Este livro de imagem conta com muita sensibilidade a história de uma menina que transforma o mundo ao seu redor. Colhendo flores do asfalto, e oferecendo-as aos que cruzam seu caminho, a obra nos lembra, principalmente, da força imensa de um pequeno gesto. Livro de imagem é um livro sem texto, assim, a narrativa é contada por meio das imagens colocadas em sequência. Dessa forma, é preciso preencher com a imaginação o que acontece no espaço de tempo entre duas imagens, isso demanda grande esforço criativo. Afinal, saber identificar em toda aquela ilustração quais os elementos principais da narrativa, associá-los entre os quadros para construir a história, sem perder as sutilezas dos detalhes, é um exercício que demanda competências que muitos adultos não puderam desenvolver em sua infância.

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